Marcha pela reforma agrária e soberania alimentar reúne 2 mil trabalhadores em Curitiba

Mobilização integra programação da Jornada Nacional de Lutas que acontece ao longo da semana





Foto: Leandro Taques

Movimentos sociais do campo se mobilizam nesta segunda-feira (17) para denunciar o desmonte da política da reforma agrária pelo governo Michel Temer (PMDB). Entre os atos estão marchas, ocupações de latifúndios improdutivos, de ministérios e sedes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) por todo o país. Em Curitiba cerca de dois mil trabalhadores rurais sem terra fizeram pela manhã uma marcha de cerca de 3,5 km, da Praça 29 de Março até a sede do Incra, onde permanecerão acampados ao longo da semana em busca de negociações com o órgão.

As ações integram a Jornada Nacional de Lutas que acontece ao longo da semana. Convocada em âmbito nacional pela Frente Brasil Popular, a jornada defende a soberania nacional, as empresas públicas, a reforma agrária e agricultura familiar e se posiciona contra as privatizações e a reforma da previdência. “Fizemos nossa marcha sem criar transtorno e estabelecemos um diálogo direto com a população de Curitiba. Marchamos de cabeça erguida, pois estamos defendendo direitos, investimentos sociais e lutando pela defesa de nosso patrimônio público. Permaneceremos acampados em frente ao Incra em busca de negociações”, esclarece Diego Moreira, da coordenação nacional do MST.

O dirigente ressalta que a Jornada visa denunciar o desmonte do patrimônio nacional construído ao longo de quase um século pela classe trabalhadora. “Tudo que trabalhadores e trabalhadoras levaram quase um século para construir de riqueza nacional está sendo entregue ao grande capital por esse governo golpista sem um pingo de responsabilidade”, destacou Moreira. Ele lembrou dos cortes drásticos do governo federal. “Reforma agrária é questão social e questão social não é gasto, é investimento. Por isso lutamos por um orçamento justo para reforma agrária e a agricultura familiar, defendemos os trabalhadores e trabalhadoras que produzem seu pão e os alimentos que chegam as mesas de milhões de brasileiros”.

O ato em Curitiba contou com caravanas de agricultores interior do Paraná, que se somam a luta com outros movimentos populares na Jornada Nacional de Lutas. “Essa jornada acontece em todas as capitais. Estamos com problemas na questão da terra, as áreas não tem sido compradas e o orçamento está cada dia mais baixo. Estamos pressionando o governo federal para que reveja o orçamento para a reforma agrária”, citou Celso Ribeiro, da coordenação estadual do MST. “É hora de nos unirmos para mantermos as conquistas da classe trabalhadora. Por isso teremos uma semana cheia de luta contra as privatizações, pelos bancos públicos, pelos Correios”, acrescenta.

Desmonte

As mobilizações do MST iniciaram na segunda-feira (16), data que celebrou o Dia Mundial da Alimentação Saudável e da Soberania Alimentar. Os trabalhadores e trabalhadoras do campo denunciam o desmonte agrária, o avanço do agronegócio e da bancada ruralista no governo e a redução no orçamento. A previsão de recursos para aquisição de terras para 2018 é de R$ 34,2 milhões, o que representa um corte de 86,7%. Para se ter uma ideia, em 2015, o montante para desapropriações foi de R$ 800 milhões.

Além disso, os movimentos sociais apontam que em 2017, o governo federal destinou bem menos recursos do que era previsto no orçamento para as áreas agrícola, ambiental e de proteção aos povos tradicionais indígenas e quilombolas. No programa de desenvolvimento dos assentamentos, por exemplo, apenas 8,3% dos R$ 242 milhões previstos foi investido. Em relação ao crédito para famílias assentadas, houve um investimento nulo ao longo de todos esses meses.

Para 2018, o cenário é ainda pior para as populações do campo. O Projeto de Lei Orçamentária enviado por Temer para o Congresso reduz ainda mais esses investimentos. Caso aprovado, ele reduzirá para apenas R$ 3,3 milhões a verba para aquisição de alimentos da agricultura familiar. Em 2015, esse valor era quase dez vezes maior, equivalendo a R$ 32,8 milhões.

Em Curitiba, os trabalhadores rurais permanecerão acampados ao longo da semana no Incra. Além de pressionar o governo federal à restabelecer como prioridade o orçamento da política agrária, o MST também busca estabelecer negociações das pautas de assentamentos e acampamentos no Paraná.

Jornada de Lutas

A Jornada Nacional de Lutas em Curitiba prossegue ao longo de toda a semana. Nesta terça-feira, às 18h30, será realizada uma audiência em defesa dos bancos públicos na Assembleia Legislativa do Paraná.

Confira abaixo a programação repassada pela Frente Brasil Popular.

Terça-feira (17)

– 18h30: Audiência em Defesa dos Bancos Públicos, no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná.

Quarta-feira (18)

– 9h: Ato pelo “Fora Temer”, em defesa da Soberania Nacional e das empresas estatais, da reforma agrária e contra a reforma da previdência, com concentração na Praça Santos Andrade, Centro de Curitiba.

Quinta-feira (19)

– 12h: Abraço no Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios, no Centro de Curitiba.

– 19h – Lançamento do Plebiscito Revogatório das Medidas do golpe, no espaço Renascer, na Av. Iguaçu, 830, no bairro Rebouças, em Curitiba (ao lado da APP Sindicato).

Sexta-feira (20)

– 8h30: Lançamento da etapa paranaense da Conferência Nacional Popular de Educação (CONAPE), na Av. Iguaçu, 830, no bairro Rebouças, na sede da APP Sindicato, em Curitiba.

– 9h: Audiência Pública em Defesa da Democracia, Políticas Públicas e Direitos Humanos, na Assembleia Legislativa do Paraná, em Curitiba.