Carlos Lamarca, o capitão da guerrilha, completaria 80 anos

Junto com Carlos Marighella, Lamarca foi um dos líderes de esquerda mais intensamente caçados pela repressão da ditadura militar





Um dos maiores nomes da esquerda brasileira completaria 80 anos nesta segunda-feira (23/10). Trata-se de Carlos Lamarca, militar brasileiro que desertou do exército em janeiro de 1969 para atuar na luta armada contra a ditadura como guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Nascido em 23 de outubro de 1937, ele foi o terceiro filho entre os seis filhos de Antônio e Gertrudes Lamarca, casal pobre da zona norte do Rio de Janeiro.

Em 1960, Carlos Lamarca formou-se pela Escola Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), obtendo a patente de capitão em 1967. Em São Paulo, no quartel Quitaúna, fez sua opção revolucionária ao integrar o Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), formado por um grupo de ex-sargentos e posteriormente uniu-se a um setor dissidente da Política Operária (Polop) que daria origem à VPR. Em 1971, em discordância com a Vanguarda, ingressou no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Na guerrilha e já separado da ex-esposa Marina Lamarca – que exilou-se em Cuba com os dois filhos antes que o companheiro abandonasse o exército – Carlos conheceu Iara Iavelberg, com quem teve um romance. Eles transferiram-se para o município de Brotas de Macaúbas, sertão da Bahia, com a finalidade de estabelecer uma cédula guerrilheira na região. Com a prisão em Salvador de um militante do MR-8, a repressão descobriu o paradeiro do casal. Iara foi assassinada numa emboscada por agentes do governo em 20 de agosto de 1971. O regime militar sempre sustentou que ela cometeu suicídio após o cerco, o que foi desmentido pelas investigações posteriores.

Lamarca e um companheiro, o operário metalúrgico José Campos Barreto, um dos líderes da greve de Osasco de 1968, foram identificados em Buriti Cristalino e sofreram épica perseguição no sertão da Bahia, sendo finalmente localizados dormindo sob uma árvore no município de Pintada. Foram metralhados enquanto dormiam no dia 17 de setembro de 1971. Lamarca tinha 34 anos.

Devido a sua atuação na guerrilha, Lamarca foi condenado por “traição e deserção” pelo exército brasileiro. Trinta e seis anos após sua morte, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça sob supervisão do ministro da Justiça Tarso Genro dedicou sua sessão inaugural a promovê-lo a coronel do exército e a reconhecer a condição de perseguidos políticos de sua viúva e filhos. Em 2015, um juiz da 21ª Vara Federal do Rio de Janeiro decidiu anular os atos da Comissão de Anistia, datados de 2007.

Junto com Carlos Marighella, Lamarca foi um dos líderes de esquerda mais intensamente caçados pela repressão, com fotografias e cartazes de procurados. Suas façanhas inspiraram lendas, filmes e livros. Destaque para a obra “Lamarca – capitão da Guerrilha”, biografia escrita por Emiliano José e Oldack de Miranda, inspirou o filme Lamarca, de 1994, dirigido por Sérgio Rezenda e que traz o ator Paulo Betti no papel de protagonista.