Marighella: o diabo constituinte





Marighella em debate com Nereu Ramos - Acervo Constituinte

Em 4 de novembro de 1969 Carlos Marighella era assassinado e, diante de tantas bobagens proferidas por aqueles que buscam a todo instante deslegitimar, desqualificar ou criminalizar a atuação de um dos maiores militantes da esquerda nacional, faço aqui algumas considerações com o entusiasmo de quem leu maravilhado a biografia escrita pelo jornalista Mario Magalhães, intitulada Marighella – O guerrilheiro que incendiou o mundo.

Vale a pena citar parte da história que muitos desconhecem sobre o baiano, que ganhou notoriedade na luta armada contra a ditadura militar por meio da Ação Libertadora Nacional (ALN), mas que também teve atuação destacada na condição de “revolucionário legal” nos debates da elaboração de nossa Carta Magna, então em gestação.

Eleito deputado federal pelo Partido Comunista da Bahia, Marighella teve atuação destacada entre os 328 constituintes. Participou de uma bancada com outros 13 comunistas, que tinha como líder Mauricio Grabóis e nomes de peso como Gregório Bezerra, João Amazonas, Claudino José Rodrigues (o único parlamentar negro) e o romancista Jorge Amado, eleito pelo estado de São Paulo. Todos devidamente acomodados no flanco esquerdo do plenário.

Comícios e discursos inflamados e no viés da luta de classes, pela defesa da democracia e contra os remanescentes do fascismo, marcaram a atuação parlamentar de Carlos Marighella. Posicionamentos solidários à grevistas, portuários e a classe trabalhadora, participação significativa na tentativa de “emendar” a Constituinte, com questões a frente do seu tempo como a laicidade da legislação, por meio de emendas como a do “ensino leigo nos estabelecimentos públicos e livre exercício de cultos religiosos”.

Batalhou pela extinção do Senado e do cargo de vice-presidente, sob a justificativa de “inutilidade”. Empenhou-se pela transformação dos serviços de tabelião e escrivão em cargos de carreira, pelo parlamentarismo e pela redução de mandatos de quatro para dois anos no caso de deputados federais e pela distribuição de terras.

De fevereiro de 1946 a dezembro do ano seguinte, interveio 195 vezes no plenário, fez 47 apartes, 39 discursos e 17 requerimentos. Das 175 emendas apresentadas pelos comunistas, respondeu por 21.

Travou embates com udenistas históricos, como Juracy Magalhães, ex-interventor da Bahia e seu perseguidor na década de 30, discussões com o líder da maioria Nereu Ramos e grandes duelos verbais com Diógenes Arruda, que bradava que o “diabo era comunista”.

Se a política é o prolongamento da guerra por outros meios, Marighella acumulava trincheiras para lutar.