Há 37 anos, o tiro que saiu pela culatra





A Celeste campeã do Mundialito de 1981. Foto: Acervo/AUF

Em 10 de janeiro de 1981, a Seleção Uruguaia de Futebol sagrava-se campeã do “Mundialito” realizado em Montevidéu. O torneio de tiro curto reuniu vários campeões e foi chamado pelo regime militar que comandava o país de “o mundial dos mundiais”. Após derrotar Holanda e Itália, o Uruguai superou o Brasil por 2 a 1 na final e foi coroado campeão da Taça de Ouro.  Porém a vitória da “Celeste” não conseguiu abafar o clamor popular diante do regime de terror que perdurava no país.

Para relembrar deste fato, ocorrido há exatos 37 anos, vale recordarmos do trecho de uma entrevista concedida pelo saudoso escritor Eduardo Galeano ao jornalista Lúcio de Castro, durante as gravações do documentário “Memórias do Chumbo: Futebol nos Tempos de Condor”.

“O futebol é uma faca de dois gumes. Por um lado o futebol, principalmente o profissional, tem sido manipulado por ditaduras, por regimes como o de Mussolini que usou as vitórias do futebol italiano em benefício de seu regime. Mas também por vezes sai pela culatra. Esse foi o caso do Mundialito. Organizado pela ditadura militar uruguaia para promover, como forma de publicidade, as virtudes do regime militar.

Aqui se reuniram os campeões de diversos campeonatos mundiais para disputar o Mundialito, o mundial dos mundiais. Estava prevista a vitória do Uruguai, é claro. Foi pra isso que ele se realizou. Mas que surpresa inesperada! No meio daquele reino do terror, do silêncio obrigatório, da mentira cotidiana, o Mundialito foi onde, pela primeira vez o povo uruguaio conseguiu reunir coragem para gritar, como gritou na partida final contra o Brasil: “Vai acabar, vai acabar a ditadura militar”.

(…) o futebol nem sempre é o vilão da história. Às vezes aqueles que querem manipular não contam que a resposta popular vai além do esperado como foi nesse caso. As coisas que acontecem no futebol sempre, de alguma forma, são secretas invisíveis, são caixas de surpresa e têm uma capacidade de assombro muito grande”.

Ou seja, em 10 de janeiro de 1981, o tiro dado pelos militares foi abafado pelo clamor do bravo povo uruguaio. Fundamental lembrarmos esses episódios em momentos que idiotas exaltam o regime militar e dizem não ter havido ditadura no Brasil (vide o garoto propaganda da campanha de Aécio Neves, Zezé de Camargo).