Lula ignora julgamento e faz discurso de candidato

Manifestantes e lideranças políticas escolhem a Rede Globo como “adversária do Brasil”




FonteJúlio Carignano
FonteManoel Ramires

Foto: Leandro Taques

O ato em apoio ao ex-presidente Lula foi acompanhado por mais de 50 mil pessoas na Esquina Democrática, em Porto Alegre. Às vésperas do julgamento em segunda instância no Tribunal Regional Federal 4 (TRF 4), a pré-candidatura mostra força com a presença de mais de 60 deputados federais, deputados estaduais e senadores de partidos progressistas.

Em seu discurso, Lula ignorou o julgamento que ocorre neste dia 24 de janeiro. Ele disse que não ia comentar seu processo, “pois seus advogados já provaram sua inocência, os três  desembargadores devem se ater ao autos e a ausência de provas e a população já o conhece há 40 anos, sabendo da sua honestidade”.

O foco do ex-presidente foi abordar o desmonte do Brasil e a possibilidade de retomada da esperança no país com empregos para os jovens. Ele destacou as riquezas minerais e potenciais do país. “Nós provamos que era possível construir um país que gerasse empregos formais, que as pessoas tivessem aumento de salário acima da inflação. Nós sonhamos com um país em que todos pudessem tomar café, almoçar e jantar. Um país que o filho de gente pobre pudesse competir na entrada de uma faculdade. Um país que não distribui armas, mas terra para o povo”, discursou Lula.

O petista listou os feitos de seu governo e dos treze anos do partido no poder. Ele destacou a mudança de política, focando as parcerias que o Brasil fez com outros países da América do Sul, criando o Mercosul, finalizando a ALCA e não dependendo do FMI. Também reforçou a parceria com a África e a criação do BRICS. Para, Lula, desde o golpe, o país voltou a ser submisso aos interesses internacionais. “Eu não posso me conformar com o complexo de vira-latas que tomou conta do nosso país. “Não posso me conformar com quem fala grosso com a Bolívia e baixo com EUA. Um país que foi o último a acabar com a escravidão”, comparou.

Foto: Leandro Taques

Globo e os adversários políticos

Aclamado pelos manifestantes, Lula voltou a dizer que o mercado financeira, a elite do país, o judiciário e a imprensa o perseguem. “A imprensa brasileira é mentirosa. Não tem compromisso com a verdade. Uma imprensa esconde os fatos. O New York Times e o El Pais fazem reportagens que a imprensa brasileira não tem coragem de fazer. Eu sei que tem uns jornalistas que são obrigados a seguir a pauta do editor para não ser demitido. Nós temos que ter liberdade de imprensa de verdade”, direcionou. Se for candidato, Lula já se comprometeu com a reforma dos meios de comunicação.

O senador Lindbergh Farias, do Rio de Janeiro, também seguiu o mesmo tom do ex-presidente. “Eu vejo que a rede Globo está assustada. Porque achavam que tirando a Dilma a economia iria crescer. Agora tentam impedir a candidatura de Lula. Eu digo à Rede Globo: deixe de ser covarde. Ache um candidato e venha enfrentar Lula nas urnas. Pode vir quente que a gente está fervendo”, provocou o carioca.

Para Lindbergh, o movimento em Porto Alegre vai se alastrar por todo Brasil. Ele afirmou que o Rio Grande do Sul é a resistência ao golpe como em outros períodos da história. Segundo o líder do PT, um dos alvos é a emissora dos Marinhos.

A senadora e presidente nacional do PT Gleisi Hoffmann  também apontou os adversário de Lula em uma eventual candidatura. Ela criticou a direita e suas estratégias. “Ninguém fala quando Bolsonaro vai às mídias e diz que vai armar a população. Quem morre é a população negra. O que eles (governo e mídia) não querem é a diversidade”, comparou a senadora, que também criticou a Lava Jato: “Eles usam delações premiadas contra o PT e soltam os empresários. Tudo isso patrocinado pela Rede Globo, que está ‘matando’ o povo brasileiro”, denunciou.

O dirigente nacional do MST, João Pedro Stédile, afirmou que o movimento vai adotar uma agenda de mobilização aguerrida em 2018. Ele não poupou críticas a emissora que apoiou o golpe de 1964 e 2016. “A Rede Globo é inimiga da classe trabalhadora. Ela é nossa verdadeira inimiga, junto com os bancos e as empresas estrangeiras. Já o juiz Sérgio Moro é puxa saco dos americanos”, direciona o líder do movimento social.

Foto: Leandro Taques

Candidatura de Lula ganha força

O grande número de pessoas, movimentos e lideranças políticas reforçam a candidatura do ex-presidente, independente do resultado no TRF4. É o caso do PSB, que declarou apoio a possibilidade da candidatura de Lula. O senador João Capiberibe (PE) disse que é dever do TRF 4 reformar a decisão do juiz Sérgio Moro. “O povo brasileiro vai garantir o direito de Lula ser candidato a presidente”, incentivou.

Mesma linha seguiu o ex-governador Olívio Dutra: “Seja qual for a decisão aqui, e queremos que Lula seja inocentado, é direito do Lula ser candidato. Não é uma questão de partido, mas do direito do povo poder escolher seu presidente”.

A ex-presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil precisa de Lula na presidência. “Para esse país que está sendo estraçalhado por políticas conservadoras volte a ter esperança. Nós sofremos um golpe dos políticos, do judiciário e de parte do mercado. Esse golpe não foi apenas de me tirar da presidência. É um processo. O segundo ato, depois do impeachment, é de um governo executando perdas de direitos dos trabalhadores e a tentativa de vender nosso patrimônio. O terceiro ato é impedir que Lula seja candidato em outubro. Não interessa que ele seja inocente. Já os culpados, que andam com malas para cima e para baixo, estão livres”, listou.

O senador Roberto Requião, do MDB do Paraná, destacou a força do movimento de trabalhadores organizados do Brasil inteiro. “Nós temos hoje aqui um tribunal popular. O TRF4 não sabe o que é isso. Eles estão julgando a história do próprio país. Ou eles estão ao lado dos direitos dos trabalhadores, ou acordaram e rejeitaram essa denuncia. O tribunal será julgado pela história”, direcionou.

“O que está em jogo em Porto Alegre não é concordar ou não com as posições de Lula. Mas estar do lado certo na maior encruzilhada democrática brasileira. Está em jogo que tipo de eleição vamos ter em 2018. Não pode ser uma eleição na qual o Judiciário resolver cassar alguém no tapetão”, destacou Guilherme Boulos, dirigente do MTST.