Produtor precisa vender cinco litros de leite para comprar um de gasolina!





Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

* Por Gleisi Hoffmann

Esta é a realidade: são as famílias do campo que pagam a conta do golpe de estado no Brasil. O produtor precisa vender cinco litros de leite para comprar um de gasolina. O preço ao produtor está muito baixo, em torno de R$ 0,80, R$ 0,85 por litro. É desanimador! Enquanto a gente paga, em média, de R$ 2,00 a R$ 3,50 pelo litro do leite de caixinha nos supermercados das grandes cidades, o produtor rural recebe menos da metade desse valor pelo trabalho que teve desde o cuidado com o rebanho no pasto até tirar o leite, guardar e entregar para as indústrias.

Essa problemática que é sentida no Paraná não é diferente do que acontece no restante do País. Aqui a realidade é agravada também pelo descaso combinado das duas esferas de ‘desgoverno’: o estadual, de Beto Richa, e o golpista nacional, representado pela subserviência de Michel Temer. Para um estado de natureza econômica essencialmente agrícola, essa dose dupla de descaso é um crime grave.

Sabe o que significa o leite para uma família que vive, mora e trabalha na roça? É o dinheirinho do mês. Ter vaca leiteira na agricultura familiar garante o chamado “cheque do leite”, que paga a conta da energia elétrica, usada inclusive para resfriar e conservar mais os produtos. É o leite que paga o rancho do mercado, que paga – e é até irônico dizer isso – o combustível com que a família abastece o carro.

Enquanto isso, vem a propaganda do governo e as notícias do jornal dizerem que não subiu o preço da carne de boi, do porco, do frango e o preço do leite. Seria ótimo não subir preço para os consumidores, diante de um poder aquisitivo da população que só vem caindo nessa economia estagnada, se isso fosse totalmente verdade e se os agricultores não pagassem o pato. Mas essa também é mais uma balela contada pelos golpistas. Eles subiram os preços antes, com uma margem de lucro grande e sem repassar ganhos para os produtores. O povo perde nas duas pontas. Agora, quando alardeiam que a inflação estaria baixa, esquecem de dizer que isso se dá às custas do sacrifício de quem trabalha no campo e produz os alimentos.

A tesoura do corte nos investimentos não perdoa. A fome e a miséria estão de volta e se não mudarmos urgentemente essa situação, logo vamos ter abandono do campo, êxodo em massa e aquelas cenas tristes de volta do desespero das famílias que deixam para trás suas raízes no interior porque não conseguem mais sobreviver na pequena propriedade. A região de Francisco Beltrão, no Sudoeste do Paraná, é uma das mais importantes bacias leiteiras do estado e se destaca, inclusive, no número de produtores rurais na atividade. Salgado Filho, município conhecido também pela tradicional festa anual do queijo e do vinho, como é que vai fazer queijo se daqui a pouco poderá faltar gente para tirar o leite?

“Me defenda, Lula”

O produtor lembra e compara o quanto era melhor nos governos do PT. Para proteger os trabalhadores, o Presidente Lula aumentou o poder aquisitivo do salário mínimo, garantiu renda às famílias mais pobres, com o Bolsa Família, por exemplo, e deu condições das pessoas comprarem bens, se alimentarem melhor e, junto com isso, impulsionarem a economia do País. Lula e o então governador Roberto Requião, quando governou o Paraná, investiram muito em segurança alimentar, na agricultura familiar, no combate à fome e nos municípios do interior. As pessoas se lembram do programa do leite das crianças, do Luz Para Todos, do Fome Zero, do Compra Direta da agricultura familiar e do programa de Alimentação Escolar, entre outros.

Os governos de Lula e Dilma investiram muito no incentivo à cadeia produtiva do leite, justamente pela compreensão dessa realidade. Os financiamentos do Pronaf foram uma grande ferramenta de incentivo à modernização da cadeia do leite. Tanto para compra de animais com vistas à melhoria da genética, quanto para aquisição de equipamentos de ordenha mecânica, entre outros. Na contramão da propaganda do governo atual, nos últimos anos os juros para contratação do Pronaf aumentaram muito. Com isso, menos produtores buscaram acessar o crédito.

Temer também impôs cortes orçamentários da última safra para cá em setores essenciais: a Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) para reforma agrária perdeu 85,2%, as políticas para desenvolvimento da infraestrutura dos assentamentos rurais perderam 69%, o programa de ATER para a agricultura familiar teve queda de 43,4%, as rubricas da promoção e do fortalecimento da agricultura familiar sofreram redução de 73,7%,o apoio aos territórios, 77% e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), outros 71,3%. O Sudoeste do Paraná sente a mudança por meio de um golpe ainda maior: na gestão do companheiro Valter Bianchini à frente da Secretaria Nacional da Agricultura Familiar, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), extinto por Temer, firmou dois grandes contratos de ATER com a Emater-PR e com a ARCAFAR (Associação das Casas Familiares Rurais), que juntos duraram 4 anos, com foco na sustentabilidade da cadeia produtiva do Leite na região: Um contrato com a Emater, em 2013, para 5.800 famílias de 29 municípios, no valor de R$ 15,215 milhões. Um contrato com a Arcafar (Associação das Casas Familiares Rurais), em 2015, para 1.000 famílias de 42 municípios, no valor R$ 3,1 milhões. Total, portanto, de R$ 18,381 milhões para 6.800 agricultores.

Essas parcerias envolveram uma intensa capacitação dos produtores, acompanhamento de unidades de referência, mais visitas técnicas, dias de campo, enfim, um conjunto de investimentos focados na melhoria e sustentabilidade da cadeia produtiva do leite. Outra iniciativa específica também do nosso governo foi apoiar uma articulação que uniu esforços da Embrapa, da UTFPR, do Iapar, de um conjunto de entidades e órgãos, em parceria com a Associação dos Municípios da Região, a AMSOP, com foco em duas cadeias tecnológicas no Sudoeste e uma delas foi a do leite.

No finalzinho do ano passado, por um atraso operacional do governo do estado do Paraná, que se importou ao menos em posar para a foto, finalmente foram entregues aos 42 municípios do Sudoeste um carro para as prefeituras utilizarem especificamente com a finalidade de beneficiar e incrementar os trabalhos em apoio à cadeia do leite. O termo de compromisso para compra desses carros (no valor de mais de um milhão de reais) também foi firmado no nosso governo, na gestão do Bianchini na SAF em Brasília e do Reni Denardi na Delegacia Regional do Desenvolvimento Agrário do Paraná. Esse comparativo entre o que tínhamos e o desastre de agora mostra bem o interesse dos governos de Temer e de Beto Richa em resolver a situação dos produtores de leite: NENHUM!

  * Gleisi Hofmann é senadora e presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores (PT)