A desumanização da política, o ódio está online!





Foto: Gibran Mendes

Cleiton Costa Denez*

A política nada mais é que a forma de lidar, arbitrar e conduzir divergências de interesses e conflitos com determinado objetivo; interesse ou vontade; seja individual ou coletivo no conjunto da sociedade. Construir caminhos políticos exige tolerância, calma, habilidade, diálogo, intermediação e construção de consensos dentro do conflito, que deve ser encarado como natural e como um processo de conjunto.

Construir consensos exige diálogo entre os divergentes, a relação do diálogo promove a humanização das relações quando me deparo com o outro de ‘carne e osso’ diante do alcance de nossos olhos o que promove a capacidade de reflexão e argumentação para convencimento do ou coexistência e sobrevivência.

Com a advento do mundo informacional e das redes sociais, em um primeiro momento se esperava a horizontalização das relações e do diálogo, que pode ter acontecido, porém com esvaziamento de conteúdo, da complexidade e da reflexão para o alcance da potência. Talvez pela liquidez das relações que tratava Bauman, onde na lógica individual não há projetos a longo prazo, o agora é o projeto e a finalidade dos indivíduos.

Criamos redes que distanciam, que nos reduz e que desumanizam as relações, entre elas a política. O Outro não está ao meu alcance, não é de carne e osso, é só uma foto, um nick, a representação de uma realidade, ou até mesmo um fake! Quem já teve a oportunidade de dizer horrores e xingar muito no Facebook e no outro dia encontrar o perfil alvo do mais profundo ódio na rua em carne e osso?

Atrás de nossos computadores e smartfhones nós sentimos em uma bolha, protegidos e distantes para atacar os que discordam em vez de dialogar, a finalidade da discussão passa ser a busca pela destruição do Outro, o que leva a busca pela potência, que é promovida pela ‘pulsão de vida’ a se transformar em ‘pulsão de morte’ guiada pelo ódio segundo Freud. Para Lancan, o sujeito odeia o Outro por conta da paixão que nutre pelo Ser do Outro, por que queria ser o Outro, ou ocupar o espaço do Outro. Ao ser excluído da possibilidade de Ser, ao sujeito só resta a tentativa de destruir o Outro.

Assim, as redes sociais tem promovido a impossibilidade do verdadeiro diálogo e da coexistência entre o Ser e o Outro, o esvaziamento dos argumentos, a liquides dos relacionamentos e dos projetos. Criar um grupo de WhatsApp parece ser a panaceia do século para a família, trabalho e amigos e para o ativismo político. Podemos ainda contemplar o surgimento do especialista de Facebook, que tudo sabe e tudo e comenta de forma onipresente, sendo a ciência dos comentários capaz de substituir com pouco tempo a conhecimento elaborado em uma determinada área por anos.

Os Likes parecem substituir afetos, a depender da quantidade é possível satisfazer as pulsões de ego e eros, troco likes! Da mesma forma, agredir de forma deliberada, destruir ou mesmo eliminar, o Outro torna se simples com um block. É como se as pessoas deixassem de existir clicando em um botão mágico, eliminando todos os nossos desafetos e problemas com o fim do outro, com a morte e o sepultamento online, offline!
Cuidado, o ódio está online e acompanhada pela pulsão de destruição e morte, lembremos que “tolerar a vida continua a ser, afinal de contas, o primeiro dever de todos os seres vivos” Freud.

*Cleiton Costa Denez é Professor Doutor em Geografia pela UEM, Secretário Executivo Educacional da APP/Sindicato.