Por Ana Carolina Dartora*
A chegada da doutrina neopentecostal aqui no Brasil difundiu-se muito em parte pela mão dos tele evangelistas, estes atualmente são a face mais visível dos evangélicos em nossa sociedade, mas não representam todos os evangélicos, muito menos todos os cristãos, sob o termo evangélico há pelo menos três ramos.
De acordo com Ed René Kivitz, teólogo e mestre em ciências da religião, existe a vertente histórica que é caracterizado pelo estudo da Bíblia e sua ética, são as denominações que nascem da reforma protestante do século 16, como batistas, metodistas, presbiterianos, congregacionais e luteranos.
A segunda vertente são os pentecostais, que surgiram em 1900, em Los Angeles, e a terceira a ramificação neopentecostal, que no Brasil aflora nas décadas de 1960 e 70, onde vemos o que se chama “Teologia da Prosperidade”, prega basicamente que se ser filho de Deus é ser bem-sucedido e abençoado, a riqueza é um sinal disso.
Sendo assim a vertente neopentecostal no Brasil acirra a lógica neoliberal do individualismo da meritocracia e da competição, não enxerga a pobreza como problema estrutural, nem as bases que a sustentam, pois segundo eles a pobreza é a falta de Deus.
Assim, rompem com princípios e valores da ética cristã que pode ser observada no Pacto de Lausanne, congresso mundial que aconteceu em 1974 na Suíça, com presença de mais de 150 nações que afirmavam entre outros a Responsabilidade Social Cristã:
Portanto, devemos partilhar o interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas, […] A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam […] (Pacto de Lausanne, 1974).
A despeito da ética do cristianismo a doutrina neopentecostal, perfeitamente alinhada com os valores do mercado, que tem o capital como valor maior e acima da humanidade, utiliza os mecanismos nefastos da religiosidade como instrumento de controle, impondo regras, condicionamentos e ameaças, sobre um povo pouco esclarecido.
No Brasil ainda não vencemos as debilidades sociais especialmente na educação, o que facilita a manipulação ideológica da população, mesmo tendo tido um governo recente que procedeu avanços significativos em todas as áreas e que são abruptamente interrompidos neste momento.
Iniciou-se a desconstrução social com a incitação do ódio ao PT (Partido do Trabalhadores) e o ataque à democracia pela revogação do direito ao voto, impeachmando ilegitimamente a ex-presidente Dilma Roussef.
Tal acontecimento, que pode ser nomeado de golpe, se deu com a contribuição desse grupo neopentecostal que para adquirir poder politico se soma a uma direita ultraconservadora para implantar um governo que rompe com o dever histórico da igualdade e da justiça.
Vê-se então as demonstrações de intolerância, preconceitos e violência extrema, a quebra do pacto social, através da utilização das pautas morais que incitam o ódio à diversidade e negam o papel do Estado e dos valores intrínsecos á democracia, como laicidade, dignidade e liberdade.
Paralelamente vemos o desmantelamento do Estado Social e perda de direitos num efeito dominó, tamanha irresponsabilidade com os princípios de humanidade se convertem em um sistema de autoritarismo, de criminalização de partidos políticos, de movimentos sociais, e até assassinatos dos defensores dos direitos humanos, um exemplo o caso da vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco (PSOL), assassinada brutalmente na quarta-feira (14/03).
Está em vigor no Brasil hoje um movimento que atua contra o fim do Estado Democrático, aceitando apenas a presença do grande capital, impondo-se contra as organizações operárias que defendem a luta de classes e um Estado ampliado, tão necessário num país de desigualdades abismais como o Brasil.
De uma forma objetiva vão-se os direitos fundamentais e garantias básicas aos cidadãos brasileiros, estima-se que 365 direitos já foram violados desde o golpe do atual presidente Michel Temer, evidencia-se a falta de desejo pelo bem comum.
Instalou-se o Fascismo!
* Ana Carolina Dartora é feminista negra, bacharel em História, mestre em Educação pela UFPR e militante da Marcha Mundial das Mulheres
