Crianças da periferia fazem Cortejo Literário pelas ruas do Centro

Evento que terá segunda edição no sábado (7) contou com crianças e adolescentes de bairros como CIC, Uberaba e Pilarzinho.





Ex-miss Curitiba carrega o estandarte do Cortejo Literário. Crianças da periferia, convidados e público fizeram a caminhada recheada de apresentações. Foto: Aristeu Araújo

No último domingo (1), o Centro de Curitiba presenciou algo inédito. Crianças e adolescente vindos de diversos cantos da periferia da cidade aportaram no Largo da Ordem com o intuito de serem vistos e ouvidos em apresentações musicais, teatrais e performáticas. O Cortejo Literário, protagonizado por jovens de Uberaba, Jardim Gabineto, CIC, Pilarzinho, entre outras localidades, integra a III Curitiba Mostra – que neste ano traz a temática dos excluídos. A mostra é um braço do Festival de teatro. Uma segunda edição do Cortejo está marcada para o próximo sábado, 7 de abril.

A programação teve início às 16h, começando à frente do Cavalo Babão com o grupo de percussão Princesas do Ritmo, formado por meninas do CIC. Depois foi a vez do MC Serginho Smith, um desinibido rapper de dez anos. Embora as primeiras apresentações trouxessem jovens que já podem ser considerados experientes no palco, para a maior parte dos integrantes a realidade é outra. Como explicou o coordenador do projeto, Kenni Rogers, grande parte dos integrantes estavam se apresentando pela primeira vez na vida. Além disso, havia muitos que nunca tinham ido para o Centro de Curitiba, tamanha à carência por que passam. Todas as apresentações foram criadas a partir da vontade dos próprios participantes. Como explicou o coordenador, a ideia era que as crianças apresentassem o que quisessem e não algo imposto.

MC Serginho Smith fez uma das primeiras apresentações. Foto: Aristeu Araújo

Kenni Rogers, que também é ator e produtor cultural, é o criador da Mostra Literatura Paraná, um projeto que leva literatura e oficinas com escritores renomados para a periferia e já atingiu milhares de jovens. Foi a partir da Mostra que o Cortejo Literário surgiu e reuniu nomes importantes das letras paranaenses, tais como Luci Collin, Luís Henrique Pellanda e Miguel Sanches Neto.

O Cortejo Literário se apresenta ao público em diferentes expressões artísticas, seja a música, a performance, o teatro, o lambe, o grafite e até flertes com os desfiles de moda. É uma profusão de apresentações que vão se sobrepondo, à medida que os jovens artistas, convidados e público vão caminhando pelas ruas do centro histórico. A estrutura é pequena e leve, o que permite que os organizadores (poucos) se desdobrem carregando microfones, instrumentos e caixas de som, além de conduzirem todos pelo trajeto previsto.

O Cortejo contou, entre outras apresentações, com um esquete intitulado “Quem matou a literatura”, no qual crianças se apresentaram em formato de enquete para a televisão. O detalhe é que a “repórter” era a própria diaba e os acusados, diversos personagens do imaginário cinematográfico de terror, como a Loira do Banheiro e o palhaço do filme “It”.
Além dos jovens, houve apresentações e intervenções de convidados, como a performance da atriz Michelle Pucci, que trazia presa em seu vestido diversas fotos de crianças participantes do projeto. Enquanto lia um trecho do livro “Encrenca”, de Manoel Carlos Karam, pedia para o público ficar com as fotos, prendendo-as agora nas roupas dos espectadores. “Tudo por farra”, dizia citando o autor. A performance é um desdobramento do projeto “Mesmas coisas”, que reúne peça, serenata e filme baseados em livro homônimo do escritor.

O Grupo de Poesia e Sonoridade (GPS) também esteve presente e distribuiu diversos poemas à população, além de aplicar lambes (técnica para colar cartazes) pelos postes da região.

Um dos momentos mais fortes foi a apresentação da ex-Miss Curitiba, Letícia Costa. Já próximo do encerramento do Cortejo, o público a viu transformar a rua em uma espécie de passarela. No final, o relato de sua história, uma pessoa que não se aceitava por causa do tom de sua pele. Letícia é negra e passou por um longo processo de empoderamento até se reconhecer como tal. Virou modelo e Miss Curitiba 2017.

O Cortejo Literário terminou no Espaço Fantástico das Artes, na Alameda Princesa Isabel, onde outras apresentações foram realizadas ao ar livre, como a de Rodrigo Zin, um MC de 22 anos que ainda vai dar o que falar, vide a qualidade de seu EP de estreia, “Francisco Oceano”. Vizinho dali a fachada de uma casa na rua Prudente de Morais estava sendo grafitada. Quando pronta, a pintura será um legado deixado por essa caminhada literária e seus protagonistas para a cidade.

Cortejo Literário
Sábado (7)
Saída às 16h do Largo da Ordem, próximo ao Cavalo Babão
Destino: Espaço Fantástico das Artes
Gratuito