“É mais fácil para as pessoas pensarem o fim do mundo do que o fim do capitalismo”

Professor Manuel Gándara ministrou palestra em Curitiba na qual analisou a teoria crítica e os direitos humanos





Professor Manuel Gándara. Foto: Gibran Mendes

O pensamento único, instalado na mente das pessoas, faz com que imaginar o fim do mundo seja mais fácil do que projetar o fim do capitalismo. A provocação é do professor Manuel Gándara, do Instituto Joaquín Herrera Flores, que realizou uma palestra em Curitiba na tarde desta sexta-feira (20).

O evento, promovido pelo Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra) e o Instituto Democracia Popular (IDP), trouxe Gándara para a capital paranaense. “Pensem como vai acabar o mundo vocês podem três ou quatro formas. Pense como seria a realidade sem capitalismo. Dá para pensar? É mais fácil pensar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. Isso não é pensamento único? Não é instalação do pensamento capitalista em nossas mentes?”, provocou o professor ao falar sobre pensamento crítico.

Para o professor, há uma “domesticação” das pessoas por intermédio deste pensamento único. “Perez Esquivel esteve no Rio de Janeiro e falou do problema dos monocultivos. Mas o pior deles é o do pensamento. A ideia é romper com esse monocultivo a partir do pensamento crítico”, avalia.

Segundo Gándara, é preciso ter a clareza de que toda ideologia, toda teoria, foi produzida por alguém e com algum objetivo específico. “Nossas sociedade são estruturalmente injustas, de forma proposital. Nas relações de poder, um grupo tem poder e outro não. Então, quando se escolhe não ter um lado acaba-se ficando do lado dos poderosos. Não ter lado em uma injustiça é para que nada mude. É ter lado e não reconhecer isso”, avaliou.

“Nós não pensamos nas teorias dos livros, nas narrativas, nos discursos. As teorias não nascem da natureza. Por exemplo, parir é natural. Mas uma mãe criar os filhos sozinha, isso não é natural. É uma decisão social. Dizem ‘Ah, é natural que existam pobres e ricos’. Natural? Se conseguem que você pense algo é natural, controlaram você”, avaliou.

Direitos humanos – O professor também analisou, a partir da teoria crítica, como conceitos de direitos humanos são utilizados para reduzir os próprios direitos humanos a partir de discursos únicos.

Um dos exemplos utilizados foi a liberdade de expressão. De acordo com ele, este conceito é utilizado por meios de comunicação empresariais para manter suas atividades econômicas sem que sejam regulados.

“A Sociedade Interamericana de Prensa, sociedade não de jornalistas, mas de donos de meios de comunicação, usam o tempo todo discurso de liberdade de expressão contra qualquer tentativa de regulação da mídia. Mas eles não falam dos mais de 30 jornalistas assassinados em Honduras. É o uso do discurso de liberdade de expressão para cuidar do direito de empresas”, argumentou.

Segundo ele, quando há confusão de liberdade de expressão apenas dos meios de comunicação privados, não há essa defesa na prática. Mas sim a manutenção deste direito na mão de poucos. “Eu, por exemplo, não tenho a mesma liberdade e alcance que a família Marinho”, criticou.

Neste caso, segundo Gándara, o direito deveria ser prestacional. “Ou seja, o Estado deveria criar mecanismos para que todos tivessem como apresentar sua opinião e não depender apenas dos meios de comunicação”, completou.