Viva o João Sem Medo!

Jornalista, treinador de futebol e militante do “Partidão”, João Saldanha foi controverso e polêmico





João Saldanha, o "João Sem Medo". Foto: Acervo EBC

João Saldanha nasceu em 3 de julho de 1917, ano da Revolução na antiga União Soviética, hoje a Rússia que abriga a Copa do Mundo. Treinador de futebol, jornalista, militante do Partido Comunista Brasileiro, o “Partidão”. Como vários personagens marcantes de nossa história, foi controverso e polêmico.

Sua passagem com treinador da seleção brasileira foi curta. João Havelange, então presidente da CBD (hoje CBF) e amigo do regime militar, o contratou para acalmar críticas da imprensa e o descontentamento da população. Saldanha montou um “time de feras”, como declarava. Pelé, Gérson, Tostão, Rivelino, Dirceu Lopes, entre outros.

Foi demitido às vésperas da Copa de 1970, no México, por não concordar com interferências dos generais em sua escalação. O episódio mais conhecido é o pedido de Médici, torcedor do Galo mineiro, para convocar o centroavante Dadá Maravilha. Indagado por um repórter, Saldanha respondeu: “Ele [Médici] escala o ministério, eu escalo a seleção”.

No fim de 1969, após o assassinato de Carlos Marighella, amigo de longa data, distribuiu a autoridades internacionais, durante passagem pelo México no sorteio de grupos para a copa, um dossiê em que citava o nome de perseguidos (especialmente jornalistas), presos políticos e centenas de mortos e torturados pela ditadura brasileira.

Mesmo após ser derrubado do cargo de treinador da Seleção, a perseguição não parou. Então contratado pela BBC para fazer artigos sobre a copa, Saldanha teve credenciais negadas pela então CBD para acompanhar o escrete canarinho em virtude de seus comentários considerados “incendiários”.

Zagalo assumiu a seleção com a saída de Saldanha. O “velho lobo” convocou Dadá, atendendo pedido do general, porém não usou o centroavante em nenhum jogo no México.

Saldanha morreu em Roma no 12 de julho de 1990, aos 73 anos, quatro dias depois de participar da cobertura da Copa da Itália. A Seleção de 70 – a qual ajudou a montar – ficou eternizada como a maior de todos os tempos. Já Saldanha, por sua coragem, ficou eternizado como “João Sem Medo”.