Bolsonaro: uma ode ao ódio

Na costura de suas respostas, o que se percebe é que Jair Bolsonaro pretende ganhar votos - não a eleição - a partir de um discurso de ódio





Jair Bolsonaro no Roda Viva. Imagem: Reprodução

É difícil saber o que pensa o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) para transformar o Brasil. Sua entrevista ao programa Roda Viva como candidato à presidente ofereceu fragmentos de sua personalidade autoritária, ignorante e hilária. Na costura de suas respostas, o que se percebe é que ele pretende ganhar votos – não a eleição – a partir do discurso do ódio. Quase nada sobre como retirar o país da crise.

A falta de raciocínio ficou evidenciada em pelo menos três perguntas: qual seria a marca que gostaria de deixar do seu governo, como combater a mortalidade infantil com corte de recursos públicos e qual o direcionamento da sua política econômica. Para a primeira questão, ao se comparar com Getúlio Vargas e CLT, FHC e o plano Real (Lula e suas políticas sociais não foi citado na pergunta), Bolsonaro se limitou a dizer que introduzirá uma economia liberal, sem detalhes sobre isso. Curioso que, em outra resposta mais à frente, disse que votou contra o Plano Real porque era duro demais, o que revela a contradição no que fala.

Quando questionado sobre a mortalidade infantil, que voltou a crescer após os cortes no orçamento feitos por Temer, Bolsonaro voltou a repetir o discurso sobre pré Natal e cárie em mães. O mais espantoso nisso é perceber que ele cometeu um erro e não foi capaz de se corrigir ou ser corrigido por seus assessores na próxima entrevista. Nem mesmo com a entrevistadora alertando que a mortalidade, além de um problema de saúde, é resultado da falta de saneamento básico. Bolsonaro deu de ombros, em uma atitude típica daqueles que acham que sua opinião é certa apenas porque é sua opinião. A terra é plana? O homem não visitou a lua? Se seu “pensamento” acha uma coisa, então ele está certo e é o que veremos a seguir.

A partir daí, as respostas de Bolsonaro são uma coleção de ódio e contradições. Ele negou que seja racista, embora seja contra a política de cotas, defendeu a meritocracia, mas defende com unhas e dentes os privilégios da classe política. Disse que “tinha que ver” esse negócio da escravidão, pois os portugueses não entraram na África, mas foram os negros que se deixaram escravizar. Sugeriu que o jornalista Vladimir Herzog tenha cometido suicídio e que a solução para o estupro é a castração química.

Chamou atenção quando foi perguntado porque ele perseguia petistas, mulheres, negros e movimentos sociais, mas nada falava sobre os banqueiros. Nesse ponto, desconversou: “pega empréstimo quem quer”. Ora, essa simples frase solta ao vento pode parecer que não é função do Estado regulamentar a economia, a indústria, as empresas, criando condições justas até para que o mercado seja livre para promover o desenvolvimento econômico de seu país. Bolsonaro prefere que o trabalhador se lance na selvageria das regras do mercado sem nenhum tipo de proteção. Não surpreende, uma vez que ele agora defende a reforma da previdência e trabalhista. Mesmo sendo confuso, Bolsonaro escolheu dar as costas ao trabalhador para agradar a bolsa de valores.

No final das contas, Bolsonaro quer licença para matar, topa reduzir o Estado no mais duro liberalismo desde que não mexa com os militares, está se lixando para qualquer política de desenvolvimento social, não se importa com a proteção das riquezas nacionais, tampouco com a soberania nacional e defende cegamente os acertos e erros – principalmente os do regime militar.