Alckmin e imprensa deviam pedir a liberdade de Lula

Impedimento de Lula ajuda a naufragar campanha tucana





Foto: Beto Barata/PR

PRAIA MANSA | A história é surpreende. Às vezes, não. Em 2016, mesmo com toda a resistência da militância petista, o sabor dos ventos e a conjuntura remavam para o golpe contra Dilma Rousseff. Três fatores conjugados, a irresponsabilidade de Aécio Neves com o país, a liderança e habilidade de Eduardo Cunha e o desejo de poder de Michel Temer apontavam para a vitória tranquila da tomada do governo com argumento pífio: pedaladas fiscais.

CÉU QUADRADO | Vencida essa etapa, o próximo passo era a prisão do ex-presidente Lula. E, mesmo com toda a resistência dos lulistas, a falta de revolta popular e a popularidade do juiz Sérgio Moro criaram condições para que o petista fosse condenado por atos indeterminados, tivesse sua sentença confirmada como um foguete no TRF-4, inclusive ampliando tempo para que ele fosse definitivamente preso. Mais uma vez o script foi de cartas marcadas, embora impere o cinismo de observadores de ambos os lados.

BIRUTA CONFUSA | Contudo, a saga pode não ter um final conforme planejado. Como uma verdadeira tragédia, ou romance épico, os ventos tem mudado a direção da biruta. A aposta de Alckmin, verdadeiro candidato de Temer e do mercado, é de que Lula iria desidratar, perdendo a capacidade de liderança e transferência de votos. Nesse compasso, era só desconstruir a candidatura de Bolsonaro e Alckmin seria eleito por aclamação.

LÍDER DA BATERIA | O diabo é que Lula não para de surfar nas pesquisas. No Ibope e CNT, chegou a 37% com reais chances de levar no primeiro turno. Ou seja, dois debates na tv sem a sua presença serviram para revelar que o candidato do povo é aquele que representa suas dificuldades. A sensação de injustiça cria empatia, solidariedade.

MAR REVOLTO | A previsão do tempo mudou bastante com a indicação pela ONU de que Lula deve participar dos debates e campanha. Do lado de lá, a aparência é de calmaria diante do tornado. Mas no centro do vendaval se sabe que o impedimento de Lula aumenta a escala do terremoto na política internacional contra o Brasil. Cada vez fica mais claro que impedir Lula é um tiro contra o próprio pé, é chance de levar um “caldo nas urnas”.

MESMA ONDA | No andar da carruagem, Lula se elege preso ou elege Haddad. Ou pior para os tucanos: Bolsonaro vence. Por isso, Alckmin e a imprensa aliada precisam dar um cavalo de pau na estratégia, precisam realmente enfrentar a democracia e Lula. Ou Haddad. Isso passa por permitir que o líder das pesquisas participe dos debates, tentar imprimir em sua testa os cravos da condenação. É arriscado, mas é a chance de um fato novo. Com Lula falando, ele pode se enrolar nas próprias palavras como fez Alckmin ao chamar para si de vice a candidata de Ciro Gomes, Kátia Abreu.

FURAÇÃO | À imprensa também interessa que Lula fale por razões jornalísticas e comerciais. Se no começo da corrida eleitoral, a mídia agiu como partido político, escondendo Lula como quem esconde uma tempestade se aproximando da praia sob o argumento de que ela se dispersava em alto mar, agora admite que o ex-presidente é informação relevante e vende notícia. Isso sem contar que ao invés de sair em defesa da condenação em segunda instância, deveria gritar em favor de um de suas premissas: a liberdade de imprensa. E, curiosamente, quando no mundo todo e na história do jornalismo, todos buscam a entrevista exclusiva, dar voz a quem está proibido de falar, por aqui a imprensa aliada se dá satisfeita por esconder qualquer aspas de Lula.  Agora, com ele nos debates, o circo midiático ganha muitos holofotes, com entradas ao vivo, corre corre, helicóptero e mais uma infinidade de coisas para se cobrir desde a cadeia até o debate e de volta à cadeia. Um negócio lucrativo.

FILTRO SOLAR | Portanto, deixa a estrela do homem brilhar.