Gilmar Mendes solta Beto Richa antes da prisão preventiva

Ministro também mandou soltar família do ex-governador e empresários presos pelo Gaeco





Gilmar Mendes. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Fotos Públicas

TROCA A MANCHETE | Eu ia começar esse texto afirmando que em uma decisão surpreendente para os padrões judiciários paranaenses, o Tribunal de Justiça acatou o pedido do Ministério Público Estadual e transformou a prisão temporária de Beto Richa em preventiva. Não deu tempo. Atendendo a um chamado da banca de advogado feito nesta sexta-feira (14), à tarde, o ministro Gilmar Mendes soltou o ex-governador tucano. Mais do que isso: proibiu de prendê-lo. A carteira suprema desmoralizou o discurso do juiz de direito Fernando Bardelli Silva Fischer.

ISENÇÃO TARDIA | Um pouquinho antes da decisão, Bardelli tinha dado uma lição de moral ao decidir transformar a prisão temporária de Beto Richa que vencia no sábado (15) em preventiva. “Nestes novos tempos que aqui se vislumbram, cumpre ao Poder Judiciário exercer sua força de maneira equânime e racional, orientando-se pelo princípio da igualdade e não conferindo maiores benefícios àqueles que, por sua posição econômica, já são privilegiados”. O texto que buscava a isenção seria digno de aplausos e até diminuiria o discurso de que apenas petista e Lula são presos. Enfim a justiça não estaria olhando a capa do processo.

AQUI SE CUMPRE A LEI | E a decisão pela preventiva se justificava pela comoção gerada no Paraná e as revelações obtidas pelo Gaeco e vindas a público. A prisão preventiva, portanto seria “fundamentada na proporcionalidade da medida frente à gravidade concreta dos fatos e à perturbação gerada na sociedade diante da magnitude do quadro de corrupção sistêmica aqui apresentado”, sentenciou Bardelli.

AQUI SE CUMPRE A ORDEM | Mas Gilmar Mendes não deu bola para todos os áudios e reportagens mostrando como agia uma quadrilha e como o governador Beto Richa tinha comportamento de verdadeiro carcamano das Araucárias. “Pelo que estava olhando no caso do Richa, é um episódio de 2011. Vejam vocês que fundamentaram a prisão preventiva a uns dias da eleição, alguma coisa que suscita muita dúvida. Essas ações já estão sendo investigadas por quatro, cinco anos, ou mais”, argumentou Mendes que também impediu nova prisão preventiva.

MANDA UM WHATS | Decisão essa já aguardada pelos advogados que, incrivelmente, conseguiram que o ministro com fama de conivente com o colarinho branco pegasse a causa. No pedido de liberdade, os advogados declararam que  se “impõe a pronta revogação da prisão temporária cominada ao Requerente e, ainda, diante da evidente ilegalidade da referida decisão que decretou a prisão provisória (antes da preventiva) e a flagrante coação ilegal”. Mas, na verdade, nem precisava disso. Talvez uma mensagem pelo Whatsapp já bastasse para a liberdade.

VÃO PARA CASA | Não satisfeito em soltar apenas Beto Richa alegando que o “decreto prisional ao qual foi submetido aparenta ser manifestamente inconstitucional e em flagrante violação ao que fora decidido na ADPF nº 444”, Gilmar Mendes estendeu a decisão para a cúpula do governo. Estão livres, portanto, Pepe Richa, Ezequias Moreira, Luiz Abi Antoun, Deonilson Rodo, Celso Frare, Edson Casagrande, Túlio Bandeira, André Bandeira, Joel Malucelli, Aldair Petry, Emerson Savanhago, Robson Savanhago, Dirceu Pupo e Fernanda Richa.

NO CAMBURÃO |  Agora, mesmo solto a partir deste sábado, o ex-governador e candidato tucano ficará preso no imaginário do eleitorado paranaense. Não haverá discurso – batido, por sinal – se declarando inocente que afastará da mente do povo a foto de Beto Richa e sua esposa, Fernanda Richa, tentando esconder o rosto de dentro e no banco de trás do carro da polícia enquanto eram transferidos.

GOVERNADOR DISTANTE |  O deputado estadual Tadeu Veneri foi mais prudente sobre a manutenção de Richa na cadeia. Perguntado se a prisão preventiva era o fim da era de Carlos Alberto, desconfiou: “O ex-governador Carlos Alberto e seus secretários, secretária e participantes do grupo que espoliou o Paraná nestes sete anos e meio são parte de uma elite perversa, predatória, escravista. Travestida de moderna, tramaram o golpe nos palácios, as fraudes nas rodas de uísque e rapina nos melhores e mais caros clubes sociais. Às custas do povo do Paraná. Que não fique apenas na aparência”, alertou.

NÃO É COMIGO | Sorte mesmo tem o juiz Sérgio Moro, uma vez que a prisão de Beto Richa foi efetuada pelo Gaeco enquanto a Lava Jato só fazia busca e apreensão no dia 11 de setembro. Não sendo parte do caso, não pode intervir para mandar prender o tucano novamente, como fez com Lula. Aliás, Moro é juiz de execuções penais? Pois é…