Trabalhadores protestam contra “Lei do Desemprego” no transporte público de Curitiba

Proposta de exclusividade da bilhetagem eletrônica extingue a função de cobradores no transporte coletivo da capital





Protesto de cobradores em frente à CMC no ano passado. Foto: Julio Carignano

Trabalhadores do transporte público de Curitiba fizeram um ato nesta terça-feira (20), na Câmara de Vereadores, contra o projeto do prefeito Rafael Greca (PMN) que institui a exclusividade do sistema de bilhetagem eletrônica no município e extingue a função de cobradores e cobradoras. De acordo com o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), a proposta coloca em risco o emprego de cerca de 6 mil trabalhadores.

O protesto reuniu também motoristas que se solidarizaram com os colegas cobradores e cobradoras. Com faixas, panfletos e caminhão de som, os trabalhadores pressionaram os vereadores a se posicionarem contra o projeto apelidado pela categoria como a “Lei do Desemprego”. “No ano passado foram criados 26 mil empregos no Paraná inteiro e com uma canetada só o prefeito quer tirar seis mil pais e mães de seus empregos”, comentou Assirio Luiz Pedroso, cobrador que participou da manifestação.

Há 15 anos trabalhando na função, Pedroso questionou as argumentações da prefeitura que os trabalhadores passarão por reciclagens e remanejamentos dentro das empresas. “Como remanejar seis mil trabalhadores dentro das empresas? No máximo 600 a 700 trabalhadores. Tem colegas que há 25 anos são cobradores, outros com média de 50 anos de idade que se deixarem a área que estão dificilmente conseguirão outros empregos e ainda não irão conseguir se aposentar”, alertou.

“Como remanejar seis mil trabalhadores dentro das empresas?”, questiona o cobrador Assirio Pedroso. Foto: Julio Carignano

O trabalhador também indagou a justificativa que o projeto diminuirá o índice de assaltos nas linhas. “Querer acabar com o dinheiro dentro do ônibus tudo bem, mas não acabar com a função. Hoje o ladrão não entra em um ônibus para assaltar o cobrador, pois ele sabe que o cofre é travado e que ali tem 30 ou 40 reais. Ele entra atrás de celulares, de tênis, de pertences dos passageiros”, citou Pedroso, informando que há cerca de dois meses foi vítima de uma arrastão na linha que atuava. “Estávamos em oito dentro do ônibus – entre passageiros, motorista e cobrador – e eles [assaltantes] entraram em cinco. Fizeram uma limpa nos passageiros, nem quiseram saber da catraca”, comentou.

Durante a mobilização na Câmara, os cobradores destacaram outras funções que vão além de cobrar passagem, atuando no atendimento a idosos, gestantes, deficientes ou pessoas com mobilidade reduzida. “Pensa um [ônibus] biarticulado que faz uma linha de trabalhadores. Às vezes faço a linha Independência/CIC, de uma ponta a outra são três postos de saúde, e é muita gente que pede informações a nós. São pessoas idosas que não sabem a linha que pegar ou onde descer, tudo isso faz parte do nosso dia a dia. Pensa quanto isso atrasaria uma viagem se estivesse a cargo do motorista”, afirmou Pedroso.

Ana Cristina, que trabalha há sete anos na linha Bom Pastor, participou do protesto e fez um apelo aos vereadores e o prefeito para que tenham sensibilidade neste momento de crise e desemprego no país. “Já tem tanto desemprego e agora querem colocar mais seis mil na fila. Espero que eles nos ouçam e não nos deixem passar por isso também”, disse a cobradora, que é mãe de três filhos.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativos ao terceiro trimestre apontam 12,5 milhões de desempregados no país. No Paraná são 516 mil, enquanto na Região Metropolitana de Curitiba (RMC) o número é de 195 mil desocupados.

“Já tem tanto desemprego e agora querem colocar mais seis mil na fila”, Ana Cristina, cobradora há 7 anos.

Pedido de urgência e eleição sindical

Enquanto trabalhadores protestavam em frente à CMC, os debates seguiam calorosos no plenário com embates entre vereadores contrários e a favor da proposta. Havia a expectativa que o projeto pudesse ser votado na próxima semana devido a um requerimento de pedido de urgência apresentado pelo vereador Rogério Campos (PSC) que pretendia abreviar a tramitação do PL, que ainda tramita nas comissões temáticas e, portanto, tem a previsão de ser votado somente em 2019.

O pedido de urgência abreviaria sua tramitação e, caso aprovado, a proposta entraria em pauta já na próxima semana, porém o autor pediu que a análise do pedido ficasse para depois do dia 29 de novembro. O motivo foi uma interpelação do vereador Paulo Rink (PR), que apontou que Campos estaria utilizando o pedido para influenciar na eleição do Sindimoc, do qual Campos já foi dirigente sindical. A eleição está marcada para o dia 29 de novembro.

A partir daí os dois vereadores iniciaram um embate na Câmara. “Essa Casa não é para ser usada para influenciar a eleição de qualquer sindicato de Curitiba. Vamos conversar com o sindicato eleito na semana que vem”, posicionou-se Rink. Campos respondeu dizendo que não havia intenção de influenciar a eleição. “Sou homem, não sou moleque”, rebateu, postergando a votação para depois da eleição no Sindimoc.

Antes disso, Campos tinha se dirigido a Rink o vinculando aos empresários do transporte coletivo e expondo uma movimentação dele, com os outros parlamentares. “O senhor joga bola com dono de empresa. É amigo deles”, disparou Rogério. “Jogo bola com várias pessoas, ganhei a vida jogando bola”, devolveu Rink, ex-jogador profissional de futebol. “Estou acostumado a mais de 50 mil pessoas me xingando, isso não influencia a minha índole”, continuou, dizendo que Campos omitiu dos vereadores a quem pediu apoio a proximidade sobre a eleição do sindicato. Nas galerias e fora do Palácio Rio Branco, cobradores se manifestavam a cada fala na tribuna.

O assunto voltará ao debate no plenário da Câmara no início de dezembro, quando o pedido de urgência de Rogério Campos será novamente avaliado. Até lá, os trabalhadores e trabalhadoras prometem fazer novas mobilizações contra o projeto de prefeitura.