Pantera Negra: Artista afro-curitibana lança seu primeiro clipe

Lançado no mês da consciência negra, trabalho de Brinsan N'Tchalá retrata o cotidiano da mulher negra e sua resistência





Foto: Robson Reginato/Divulgação

A cantora, compositora e escritora Brinsan Ferreira N’Tchalá lançou no mês da Consciência Negra seu primeiro trabalho audiovisual e sua primeira música autoral. Pantera Negra é uma das mais de 200 composições desta artista multicultural que escreve poemas desde seis anos. O clipe traz como tema central o cotidiano da mulher negra no Brasil, sua resistência, seu empoderamento e conta com a participação de grupos ativistas de Curitiba.

Nascida na capital paranaense, Brinsan carrega o ativismo em seu DNA. A jovem é filha de Francisco N’Tchalá, africano de Guiné Bissau e um dos fundadores do movimento negro em Curitiba; e de Cláudia Maria Ferreira, professora de educação especial e militante do movimento negro desde 1987. Os pais sempre a incentivaram de várias formas a lutar pelo que lhe é de direito.

Por falar em direitos, Brinsan é estudante prounista de Direito na Unicutiriba e participa de estudos sobre racismo na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Militante dos movimentos negro e feminista, integra a Rede de Mulheres Negras e o Fórum Paranaense da Juventude Negra (Fonuje). Também atua como modelo, é rainha do Bloco Afro Pretinhosidade e integra o Coro Cênico de Curitiba.

Em entrevista ao Porém, a artista falou do lançamento de seu primeiro clipe, seu próximos projetos, sua militância e como é ser negra no Brasil.

Porém: Como despertou sua militância no movimento negro e feminista?

Brinsan: A militância vêm desde muito cedo, meu pai foi líder revolucionário na Guiné-Bissau e minha mãe é do movimento negro em Curitiba. Eles se conheceram no Brasil quando o pai veio estudar. Cresci em meio a luta e resistência. A militância está intrínseca a minha existência, sempre senti a necessidade de denunciar o que acontecia comigo.

E a união da militância e arte?

Desde os 6 anos faço poesia, escrevi meu primeiro samba aos 8 anos. Tenho mais de 200 composições musicais e mais 300 poemas. Arte é uma forma de expressar tudo que sinto, falar de amor, do cotidiano. Nunca me vi como cantora, dançava, participava de apresentações no 20 de novembro, mas sempre como forma de combater o preconceito. Aos poucos fui me vendo como alguém que tinha uma voz que podia ser ouvida. A arte pode ser uma arma para combater e denunciar o machismo e o racismo.

Foto: Robson Reginato/Divulgação

E o lançamento de Pantera Negra?

O roteiro do clipe fui eu que criei, a direção fotográfica é do Robson Reginato. Compus a música com 16 anos, no ensino médio. É uma junção de vários coisas que vivi: da violência, da discriminação. Porém uma delas me marcou muito. Eu estava no caminho da escola. No ônibus um cara estava me assediando e falando coisas como ‘morena fogosa’, ‘gostosa’. Eu era adolescente e ele, bem maior, não deixou eu sair, descer no ponto. Ele tampou meu caminho. Empurrei ele e consegui sair, daí ele começou a me xingar de ‘fedida’, ‘preta suja’. Ele até então estava “me elogiando” e a partir que reagi contra aquela violência, aquele assédio, ele começou com seu racismo. A música trata disso, está na psique do brasileiro ver a mulher negra como objeto sexual. Se você reage, fala o que pensa, você se torna uma aberração. O clipe trata disso, o resultado foi ótimo, tive apoio de muitos amigos, grupos e coletivos.

“Sempre ouvi dizer se eu quiser crescer, tenho que me esforçar em ser a Globeleza ou então me contentar com seus cargos de limpeza” – Trecho de Pantera Negra

O clipe foi lançado no mês da consciência negra, data a qual ouvimos pessoas falarem em “consciência humana” baseados numa frase descontextualizada do Morgan Freeman. Como você avalia?

Essa história de “consciência humana” é papo de pessoa que não quer rever seus privilégios, que não quer desconstruir seu racismo, assumir que o país é baseado num racismo estrutural. Por isso o lançamento foi feito em um mês que considero emblemático e simbólico.

O que é ser negra no Brasil?

É ter que lutar bravamente por respeito, como bem define a Elza Soares. O racismo no Brasil é estrutural, é a base que foi consolidada o país, está fundado em seus alicerces. É sobre nós que cai um peso social histórico, uma violência mais acentuada. É nós que mais sofremos com a falta de políticas públicas, na ausência nos espaços de poder, na falta de educação, saúde, nos índices de mortalidade, com a violência doméstica. Dados do IBGE apontam que a violência contra a mulher branca diminuiu nos últimos 10 dez anos, porém aumentou com a mulher negra.

“Oprimida, reprimida, excluída, sempre esquecida. Mas lembrada para faxina na sua casa” – Trecho de Pantera Negra

Qual mensagem que pretende passar em seu trabalho?

Que somos plurais, cada uma tem sua história que deve ser contata, respeitada, não diminuída. Viemos trazer essa voz que há tanto tempo querem silenciar. Faremos essa voz ecoar para nossas irmãs, para nossas filhas, para as próximas gerações, pela nossa ancestrualidade.

Foto: Robson Reginato/Divulgação

O que podemos esperar da Brinsan para 2019?

Têm projetos para acontecer, o lançamento de uma outra música que chama ‘Quando você chega é sim’, que é uma outra temática, um som mais sensual. Uma música que muitos já conhecem, mas que ainda não lancei oficialmente. Além disso tenho planos de lançar um álbum.

Confira abaixo Pantera Negra, primeiro clipe de Brinsan Ferreira N’Tchalá