Cineasta curitibana lança quatro filmes na Cinemateca

Pré-estreia conta com três curtas e um longa metragem





A cineasta curitibana Juliana Sanson consumará neste domingo, 23, na Cinemateca, um feito raro: a pré-estreia, de uma tacada só, de quatro filmes inéditos, três curtas-metragens e um longa, todos dirigidos por ela.

“Não é uma coisa corriqueira nem para diretores homens, que ainda tem mais penetração do mercado, quem dirá para uma mulher”, resume.

Dos curtas-metragens, dois são de ficção. Um deles, “Bicho do Mato”, foi o grande vencedor na semana passada do 20º Festival Kinoarte de Cinema, em Londrina, obtendo os prêmios de Melhor Filme do júri oficial e popular na categoria de curtas paranaenses, além de Melhor Direção, Melhor Roteiro, Melhor Direção de Arte e Melhor Som.

“Bicho do Mato” conta a história de Jussara e de sua família, que perdem tudo quando suas terras são atingidas por chuvas intensas. Por conta disso, deixam o campo para morar na cidade, o que traz dificuldades de adaptação para todos, principalmente para a menina Jussara.

No filme, Jussara é interpretada por Julia Sanson, de 11 anos, sobrinha da diretora. “Ela não é atriz, mas sempre vi nela uma potencialidade, um talento. Testamos muitas outras meninas, mas quando a Julia chegou ela tomou conta da equipe. Dirigir ela foi muito fácil e muito gostoso”, conta.

Os outros dois curtas que serão exibidos no domingo são “Julieta de Bicicleta” e “Fronteiras: Guaíra”, um documentário-piloto que deve virar uma série sobre o perfil das cidades brasileiras fronteiriças. “Esse trabalho tem uma importância incrível. E é sempre uma responsabilidade muito específica lidar com o depoimento de pessoas reais”, diz Juliana.

No documentário, que além de dirigido é roteirizado por ela, Juliana relembra a construção da Usina de Itaipu e o consequente “sepultamento” das Sete Quedas, à época as maiores cachoeiras em volume de água do mundo, na fronteira do Brasil com o Paraguai, e fala sobre como esse episódio ainda hoje afeta o imaginário da população da pequena cidade de Guaíra.

“É como se a cidade tivesse sido saqueada”, resume.

Já o longa “Uma Morte Qualquer” fala da relação de um homem com a finitude. Foi também o trabalho que até hoje mais pediu o empenho da diretora. Começou a ser filmado em 2013, com um orçamento muito baixo. Teve uma versão finalizada no ano seguinte, mas o resultado não deixou Juliana satisfeita. Depois disso, ela tirou dinheiro do próprio bolso para alterar o resultado, filmou novas cenas e remontou o filme.

“Esse longa foi sem dúvida meu maior aprendizado, minha maior escola”, diz.

Cinema se aprende na escola – e pelo mundo

Juliana Sanson nasceu em Curitiba, em 1974. Formada em letras, é roteirista, diretora e produtora de cinema. Começou a estudar audiovisual em 2003, no Projeto Olho Vivo. A partir daí, rodou parte do mundo para adquirir conhecimento, participando de cursos em Cuba, Argentina, Chile e México.

Roteirizou e dirigiu seu primeiro curta de ficção, “Fabulário Geral de um Delírio Curitibano”, em 2007. “Coração Magoado” e “Prato do Dia” são de 2012 e 2014, respectivamente.

Juliana também já dirigiu videoclipes de artistas e bandas curitibanas (como Michelle Pucci, Estrela Leminski e Téo Ruiz, e o Grupo Fato), roteirizou ficções e documentários e atuou como produtora executiva do longa e da série documental “A Linha Fria do Horizonte”, dirigidos por Luciano Coelho, em parceria com o Canal Brasil.

“Nesses 15 anos em que estou no mundo do cinema, senti que as coisas mudaram muito para nós, mulheres. Antes, era difícil as pessoas te considerarem para dirigir seus projetos. As mulheres acabavam sempre ocupando funções ligadas à parte prática e burocrática da produção. Felizmente, isso melhorado”, avalia a diretora, que atualmente trabalha no roteiro de “1989”, seu segundo longa de ficção.

Serviço

Pré-estreia: três curtas e um longa de Juliana Sanson

Dia 23 de dezembro

Cinemateca de Curitiba

Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 – São Francisco

Entrada franca

Horários: Sessão 1 – curtas: 16h

Fronteiras: Guaíra

Bicho do Mato

Julieta de Bicicleta

Sessão 2 – longa: 18h

Uma Morte Qualquer