Moradores da Ocupação 29 de Março denunciam novas ameaças recebidas em ações policiais no local




FonteInstituto Democracia Popular

Foto: Gibran Mendes

“Pode passar e boa sorte lá em cima porque hoje vai dar tiroteio, ninguém vai dormir”. Esse é um dos relatos em áudio que circularam por grupos de whatsapp de moradores das Ocupações 29 de Março, Nova Primavera, Tiradentes e Dona Cida na noite de 06 de janeiro. A moradora estava chegando do trabalho e teria encontrado a presença de policiais na entrada das ocupações, quando perguntou se poderia passar.

O áudio circulou junto a diversos outros, em que os moradores se organizavam e convocavam as famílias para permanecerem nas ruas naquela noite. “Falaram que hoje à noite o bicho ia pegar de novo. Da outra vez eles falaram, não botamos muita fé e eles vieram e fizeram mesmo”, disse outro morador, reafirmando a importância que todos se unissem.

Os moradores das ocupações localizadas no bairro Cidade Industrial de Curitiba (CIC) também mencionaram acreditar que a polícia militar não poderia estar circulando lá na área das ocupações. “Eles não poderiam estar aqui, porque dentro da ocupação têm pessoas que foram agredidas, torturadas. É o tempo todo viaturas da Rotam circulando e tirando fotos”.

As ações policiais não foram somente na noite de 06 de janeiro. Na última quinta-feira, 10 de janeiro, alguns vídeos mostram a presença de três viaturas na rua Estrada Velha Barigui, que corta as ocupações. Os policiais andavam com as janelas abertas e celulares filmando em punho. Outro episódio que aconteceu na mesma data foi a presença de um carro preto sedan descaracterizado parado na rua que corta a nova 29 de Março, onde as casas dos moradores vítimas do incêndio de 07 de dezembro começam a ser reconstruídas.

Em um dos vídeos, dois policiais que estavam junto ao carro preto vestiam coletes da PM e diziam aos moradores que estavam ali para ver como estava a reconstrução da área, mas o carro estragou. Em todas as imagens que mostravam conversas entre a população e os policiais, os moradores relatavam que os policiais eram bem-vindos, “mas nós vamos filmar e fotografar, foi recomendação da doutora”.

Desde a noite do incêndio, diversas organizações da sociedade civil, incluindo a de advogados populares, auxilia as vítimas da Ocupação 29 de Março. Os moradores também contam com a atuação do Ministério Público do Paraná (MP-PR), da Defensoria Pública do Paraná e da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Paraná. Esses órgãos oficiais acompanham de perto a situação dos moradores das quatro ocupações, enquanto eles contam com o apoio de voluntários para a reconstrução das casas.

Em nota oficial enviada à Rádio Banda B, a PM afirmou que a viatura descaracterizada estava no local para verificar a abertura de uma rua na ocupação 29 de Março e que isso era parte dos procedimentos do batalhão.

Os moradores denunciam que nos limites da ocupação, especialmente onde começa o asfalto, são frequentemente humilhados pela PM, com enquadramento, ameaças, perseguição.