Crônica: É tempo de dúvidas

Paira no ar incertezas em casas e casernas





Ter uma casa de esquina é uma benção. Mas para muitos pode ser transtorno. A casa de esquina permite observar o movimento de duas ruas de uma perspectiva privilegiada. Ainda mais se a sua casa não é um presídio em que você se encastela a ponto de desconhecer os destinos que se cruzam nas quatro calçadas. Mas também expõe o observador do lado de dentro a uma dezena que desconhecidos sempre prontos a conhecer o interior da residência. Sem contar que quanto mais escondida é a moradia, maior é o desejo de conhecê-la por dentro sem receber um convite oficial.

 

Das vantagens de se estar em uma casa de esquina, a posse de um alpendre aumenta a sensação de conforto e segurança. Poder estar sentado em uma cadeira antiga, de palha, ou cujos fios são feitos de plástico reciclável, unindo a praticidade e a sustentabilidade, é refrescante. Nesse local, o sol entra pela sua área, mas é barrado por um telhado, dando a liberdade para que a sombra possa habitar no ambiente. Sem contar o vento que, moderado, pode percorrer os dois lados e refrescar as pessoas em tempos de calor exagerado e pensamentos coléricos.

 

Das desvantagens de se estar em uma casa de esquina, reside a possibilidade de estando a atenção focada em uma das ruas, não ter visão periférica suficiente para perceber que da outra rua emerge um potencial estranho. Em uma casa de esquina com um alpendre, é natural que seus moradores, com o tempo, com a adaptação às esquinas tranquilas e com os índices não tão alarmantes de roubos, baixem a guarda e a atenção para o perigo. Uma vez sendo surpreendido ou surpreendida, haverá tempo de correr para dentro, trancar a porta, ir até o quarto, digitar ou decodificar a senha do cofre, pegar a arma, engatilhar, abrir a fresta da janela e dar uns pipocos no novo inquilino não acordado?

 

Realmente, uma casa de esquina não parece ser tão confortável assim. Talvez tenhamos que dar um jeito nisso daí. Vender a casa de esquina, se mudar para uma casa com vizinhos do lado, mas colocando muros bem alto nas laterais e portão bem resistente na frente para que, quando formos assaltados, ninguém próximo possa perceber que estamos sendo roubados. É necessário se dar tranquilidade e conforto a quem honestamente se propõe a nos tomar os bens.

 

É tempo de dúvidas. Incertezas que entram em nossas casas com a brisa da desconfiança. Em muitas casas já se debate a permanência daquele que está tomando conta dessa grande esquina que é o Brasil. Ficará ele os quatro anos ou em menos de 20 dias já é perceptível a incapacidade de controlar o trânsito de veículos e pedestres quando o semáforo entra em pane? Do outro lado da rua, tem a turma que enxerga habilidades nesse fiscal. Daqui do alpendre, se observa que é eminente o choque de dois carros, de pessoas e até de formigas. Mais ao longe, de binóculos, talvez alguém esteja se preparando para controlar o fluxo próximo à casa da esquina. Os jornais não noticiam, mas essa já é a pauta nas casas, apartamentos, gabinetes e casernas.