Por que imprensa foca em Queiroz e Flávio Bolsonaro?





Jair Bolsonaro, Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Conforme o cerco se aperta em relação a família Bolsonaro e suas relações suspeitas, os bolsonaristas se dividem em defender seu líder, tentar desviar a pauta da mídia como no BNDES e a criação de outras fake news ou questionar por que a imprensa dá tanto destaque a esse caso e não dá a mesma visibilidade a outros personagens envolvidos em escândalos de corrupção.

A dúvida, quando parte do eleitor comum, é digna de explicação. Mas quando é proferida, por exemplo, por deputados e deputadas com recorde de votação e tem em sua origem a formação em jornalismo, é pusilanimidade.

O fato de a imprensa focar nos Bolsonaros em si é óbvia: eles assumiram o poder do país, tem quatro políticos no legislativo e executivo, o envolvido vai assumir uma cadeira no senado. Ambos se elegeram tendo como bandeira combater a corrupção. Ou seja, a visibilidade deles é um dos principais critérios de notícia, conforme qualquer manual básico de jornalismo.

Como comparativo, basta avaliar o comportamento do jogador de futebol Neymar Júnior (só o fato de citar seu nome já desperta interesse/audiência). Ele sempre teve fama de cai cai, como podia ser visto nos tempos de Santos e até Barcelona. Contudo, o seu comportamento ganha mais destaque positivo ou negativo quando sua artimanha é utilizada no meio de uma Copa do Mundo em que ele, Messi, Cristiano Ronaldo são os protagonistas. Curto e grosso: ele chama mais atenção. Nenhum jornal ou jornalista vai colocar em sua capa a manchete “Jan Jun Chan simula agressão e prejudica a China”. Ora, no Brasil, essa notícia não despertaria interesse ou comoção. Dessa maneira, se vê muitas vezes na imprensa manchetes que despertem o maior interesse no receptor “Ex-ministro de Lula denuncia corrupção”, “Flamengo perde em casa” e “Passagem do ônibus fica mais cara”.

Assim, Queiroz e Flávio Bolsonaro são mais  notícias do que os demais deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro porque a descoberta de suas possíveis falcatruas podem levar a deposição do presidente e ter impacto direto na vida de todos brasileiros. Já o deputado estadual XYZ, perdendo o mandato, ou não, em pouco impacta o coletivo nacional.

Por outro lado, advogar pela mesma atenção aos demais confronta as principais receitas do que é uma notícia. E essa deve ser valer por qual é o critério de impacto, o nível hierárquico dos envolvidos no fato, a quantidade de pessoas atingidas pelo fato, a relevância, de acordo com critérios formados por Mauro Wolf. O que querem, na verdade, é que ao tratar de todos os envolvidos – que devem ser investigados – se dilua o fato principal a ponto de esse passar despercebido ou perder sua relevância jornalística. Ou, no popular, querem “passar pano” enquanto o papel da imprensa é “surfar a onda e não remar contra a maré”.

Mas seguindo o princípio jornalístico de que “se o cachorro morde o homem não é notícia, mas se o homem morde o cachorro, é”, a agenda do que é gancho ou não se dá pelos fatos mais importantes, pelo o que se “tagueia” vira “trand tópicos”, vende notícia, e não pelo desejo daqueles que temporariamente ocupam o poder.