Petistas celebram 39 anos do partido em ato na Vigília Lula Livre

Sem caráter festivo, passagem dos 39 anos do partido teve ato pela liberdade de Lula e uma celebração ecumênica





Ato político na Vigília Lula Livre. Foto: Julio Carignano

Ao completar 310 dias, a Vigília Lula Livre, em Curitiba, recebeu uma programação especial de celebração dos 39 anos do Partido dos Trabalhadores (PT). Militantes do partido, de movimentos sociais e lideranças políticas reuniram-se neste domingo (10) para participar do ato político e celebração ecumênica pela passagem do aniversário do principal partido da esquerda brasileira.

Devido a atual conjuntura, com a eleição de um governo de direita e a prisão do ex-presidente Lula, a celebração não teve caráter festivo, mas sim de resistência e denúncia, como explicou o presidente do PT do Paraná, Dr. Rosinha. “O PT mudou a história do Brasil e devemos recordar e comemorar essas conquistas, porém aliado a isso, esse ato também é um momento de denúncia, de cobrarmos a liberdade de Lula, pois ele é um preso político”, frisou o dirigente partidário.

Filiado desde 1981 – ano seguinte a fundação do partido – Rosinha fez um histórico do PT, destacando sua participação nos principais momentos do país, desde a o período da redemocratização até quando esteve a frente do governo federal por 13 anos. “Nossos quadros ajudaram a derrubar a ditadura, ajudamos na reabertura democrática, a construir a Constituinte e nos tornamos uma referência da classe operária, contra o machismo, pela defesa e diversidade de cada um, da liberdade do livre pensar”.

André Machado, presidente municipal do PT, destacou que o partido segue como o grande referencial de resistência e oposição ao governo Jair Bolsonaro. “Essa resistência passa por resistir a reforma da Previdência, resistir a essa nova reforma trabalhista, resistir à perseguição no campo e na cidade e resistir pela liberdade de Lula”, apontou.

Apesar do resultado das eleições presidenciais, Mirian Gonçalves, ex-vice-prefeita de Curitiba e candidata ao Senado, afirmou que o PT segue forte. “Disseram que iriam acabar com a gente, que iriam acabar com os vermelhos, que não tínhamos o povo do nosso lado. Estamos voltando para dentro das universidades, para as favelas, retomando nossa a militância de base. Estamos mais vivos que nunca”.

A perseguição do Judiciário ao ex-presidente do Lula foi repudiada durante o ato na Vigília Lula. “Cada vez que perseguem ao Lula, perseguem a nós e ao povo brasileiro. No mesmo dia que o ex-presidente foi indicado para o prêmio Nobel da Paz, a juíza aqui em Curitiba fez sua segunda condenação. Porém não há juiz, promotor ou deputado que consiga dormir com a tranquilidade de Lula, pois ele é inocente”, destacou o deputado estadual Tadeu Veneri.

Apesar do “gosto amargo” da comemoração dos 39 anos, o ato político foi uma demonstração da vitalidade do Partido dos Trabalhadores, apontou a vereadora Professora Josete, única representante da sigla na Câmara de Curitiba. “Vamos continuar comemorando outros 39 anos, mais 39 e mais 39. Pois temos um projeto, um projeto de uma sociedade justa, onde homens e mulheres sejam sujeitos de direito, direito de uma vida digna. Lula, além de ser a maior figura do partido, é a representação deste projeto, de uma sociedade mais justa e igualitária”.

Histórico

O Manifesto do Partido dos Trabalhadores foi aprovado na reunião de fundação da legenda no auditório do Colégio Sion, em São Paulo, no dia 10 de fevereiro de 1980. O documento afirma que o PT “surge da necessidade sentida por milhões de trabalhadores brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la”. Propõe mobilizar os trabalhadores da cidade e do campo não apenas nos períodos eleitorais e organizá-los para “construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores”.

Liderado por dirigentes sindicais, o PT atraiu ativistas das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), ex-militantes de organizações revolucionárias, um respeitável núcleo de intelectuais de esquerda e militantes de movimentos sociais. Foi a primeira legenda organizada após a reforma partidária que extinguiu o MDB e a Arena. A criação do PT surpreendeu a ditadura, que não contava com um partido de esquerda nascido de bases populares. Também surpreendeu setores da oposição que defendiam a formação de um partido social-democrata ou a permanência da esquerda no PMDB.

Como principal liderança do PT, destacava-se o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luiz Inácio da Silva, o Lula, que desde 1978 desafiava a ditadura à frente de grandes greves. A ficha de filiação número um foi assinada por Apolônio de Carvalho, ex-dirigente comunista que lutou contra o fascismo na Guerra Civil Espanhola e na Resistência Francesa. Na sequência, assinaram o crítico de arte Mário Pedrosa, o crítico literário Antonio Candido e o historiador Sérgio Buarque de Hollanda, historicamente ligados à luta pelo socialismo no país.

A criação de um Partido dos Trabalhadores vinha sendo discutida desde outubro de 1978, quando Lula lançou a tese no 3° Congresso dos Trabalhadores Metalúrgicos, em Guarujá (SP). Na época, ele argumentava que os trabalhadores precisavam eleger seus próprios representantes no Congresso Nacional. Em 13 de outubro de 1979, foi eleita a Comissão Nacional provisória do Movimento Pró-PT, coordenada por Jacó Bittar, presidente do Sindicato dos Petroleiros de Campinas (SP). Dirigentes sindicais como Olívio Dutra, Manuel da Conceição e Luiz Dulci eram maioria na comissão.

* Com informações históricas do Memorial da Democracia