Urgente: Iminente despejo de famílias indígenas em Santa Helena

Ordem de despejo foi expedida pela Justiça Federal de Foz do Iguaçu atendendo pedido da Itaipu Binacional





Famílias indígenas em risco de serem desalojadas. Foto: arquivo Fernando Lopes

Lideranças Guarani do Paraná denunciam um despejo iminente que está prestes a acontecer na aldeia Tekoha Pyau, em Santa Helena, no oeste paranaense. No local vivem doze famílias indígenas, entre elas doze crianças, seis idosos e uma gestante. A decisão de reintegração de posse foi expedida pela Justiça Federal de Foz do Iguaçu atendendo pedido da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional.

Informada nesta segunda-feira (11) da ordem de despejo, a comunidade adianta que não tem um outro local para ir. A situação preocupa os indígenas, uma vez que o despacho já foi enviado à Polícia Federal que pode cumprir a reintegração há qualquer momento. “É mais uma tristeza para o lado dos Guarani, para a criança Guarani, para o idoso Guarani. Estamos preocupados, a Justiça deveria ver o nosso lado também. Não temos para onde ir, não temos onde morar, não temos condições financeiras para sair daqui”, diz o cacique Fernando Lopes.

Em meio à iminência do despejo, os indígenas aguardam que o Ministério Público Federal intervenha na situação e que o Supremo Tribunal Federal (STF) acate recursos que pedem a suspensão da reintegração de posse. “Dependemos da Justiça, mas parece que ela não olha para o lado do Guarani. Somos seres humanos, temos o mesmo sangue de qualquer outro ser humano, de um juiz, de um promotor. A alma é a mesma, o sentimento é o mesmo. Nossas crianças não são como os animais que alguns brancos abandonam na ruas sem ter para onde ir”, comenta Lopes.

De acordo com o despacho da reintegração de posse, a área reivindicada pela Itaipu Binacional é de preservação ambiental, porém o cacique afirma que as famílias indígenas estão preservando a reserva. A terra em questão é reivindicada como território tradicional pelo povo Guarani, inclusive com processo de reconhecimento já em trâmite. O local foi ocupado pelas famílias indígenas em 4 de fevereiro do ano passado.

O território às margens do Lago de Itaipu está sendo retomado nos últimos anos pelos Guarani, porque essas comunidades foram expulsas em 1982 para construção do lago de Itaipu e, após o alagamento, ficaram desassistidas por 35 anos, vivendo de favores nas aldeias de seus parentes. Nesse momento, sem terra e com a população crescendo, os indígenas estão sendo obrigados a buscar novos locais.

“Historicamente nossos parentes viveram aqui, antes de Itaipu alagar às margens do Rio Paraná. Nossos antepassados tiveram que fugir após o alagamento. Essa era uma terra tradicional, aqui era o Tekoha Dois Irmãos, e voltamos para ocupar esse espaço. Mas desde que entramos aqui a Itaipu não nos deixa em paz. Já tentaram três vezes nos despejar, colocar essas famílias nas ruas”, aponta Fernando Lopes.

As famílias Guarani em ameaça de despejo são acompanhadas pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI) de Foz do Iguaçu, que compartilha da preocupação com o impacto que um eventual despejo trará a essas pessoas que não tem onde morar.