Moro sofre de amnésia seletiva sobre mensagens

Ministro se negou a autorizar que Telegram recupere mensagens no período em que era ministro





Ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Foto: Pedro França/Agência Senado

O ministro Sérgio Moro adotou a estratégia de não reconhecer ou se lembrar das mensagens que viram à tona nas reportagens do Intercept. “Eu não posso recordar há três anos se mandei a mensagem daquela natureza”. Ele segue dizendo que é normal os juízes conversarem com as partes, mas não mostrou nenhum exemplo próprio de que ele teria conversado com advogados de defesa como os do ex-presidente Lula. O ex-juiz foi cobrado pelos senadores de oposição que leram as mensagens trocadas por Moro com o procurador Deltan Dallagnol.

O senador Weverton (PDT/MA) rebateu a normalidade dita pelo ministro Sérgio Moro. Ele leu trechos da reportagem em que o ex-juiz interferiu nas fases da Lava Jato, criticou a atuação de uma procuradora e temas ligados a Lula. “Esse protagonismo de juiz tem respaldo na lei brasileira? Você mantinha as tratativas com os advogados, quais? No pacote de corrupção, o senhor disse que uma prova ilegal poderia valer para uma investigação. Por que nesse caso não vale”, cobrou o senador. Ele disse que Moro, conforme pedido da OAB, deveria se afastar em nome da preservação das instituições. “O senhor condenou Lula e surgiu Bolsonaro. Depois disso, você decidiu ser ministro de Bolsonaro e isso maculou sua imparcialidade”, cobrou Weverton.

Em resposta, Moro voltou a criticar o Intercept, dizendo que o site não deveria fazer as denúncias, mas levar essas informações às autoridades. Ele disse não lembrar das mensagens que mandou. O ministro disse que entregou o seu celular clonado à justiça, mas as denúncias são de período em que ele era titular da 13a Vara de Curitiba. Para ele, por outro lado, é difícil comentar esse conteúdo sem ter a memória exata. “Tirando o sensacionalismo, não tem nada ali”. Contudo, o ministro se esquivou e não disse com quais advogados ele teria conversado durante a operação Lava Jato. Sobre o convite de Bolsonaro, Moro disse que aconteceu dentro da normalidade e que ele não conhecia o então candidato na época do convite.

O ministro também falou que suas sentenças foram confirmadas em outras instâncias e que sua atuação não foi partidarizada. “Eu tenho absoluta convicção que esses magistrados agiam com correção”. O ex-juiz também não gostou da informação de que existe material para um ano de denúncias a conta-gota. “Apresente esse material a autoridade para ser periciado”, implorou.

As justificativas de Sérgio Moro não convenceram o senador Ângelo Coronel (PSD/BA). Ele voltou a cobrar o ministro a mostrar que conversas ele manteve com advogados orientando sua atuação. O senador ainda convidou Moro a autorizar o Telegram a fornecer as mensagens dele para refrescar sua memória e ainda que o procurador Deltan Dallagnol entregue seu celular à perícia. Recomendação que não foi aceita pelo ministro. Por fim, o senador Ângelo Coronel afirmou que o ex-juiz deveria se espantar de a acusação não ter provas contra Lula 24 horas antes da denúncia. “Caso se confirme essas mensagens, fica patente que o senhor interferiu nas eleições de 2018 com a sua conduta”, cobrou.

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