Pluralidade cultural é celebrada no Dia Mundial do Refugiado

Evento oportunizou integração de brasileiros com migrantes e refugiados radicados em Curitiba





Atrações culturais, musicais e literárias marcaram evento. Foto: Julio Carignano

Migrantes e refugiados em Curitiba celebraram na noite de quinta-feira (20) o Dia Mundial do Refugiado com uma festa que promoveu a pluralidade cultural das várias nacionalidades presentes atualmente na capital paranaense. Ocorrido no espaço cultural Rua Pagu, o evento contou  com apresentações musicais e literárias, exposição de artesanato e partilha de histórias de pessoas que buscam um recomeço no Brasil.

Promovida pelo grupo de extensão De Portas Abertas para o Mundo (Unicuritiba), Cáritas Brasileiras e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a festa oportunizou aos brasileiros ouvirem histórias como a do poeta e romancista angolano Moises Antonio, que mora há três anos em Curitiba. Seus poemas tratam da migração dos povos e já foram citados em trabalhos acadêmicos em vários estados. “Sou imigrante, não tenho terra. Tudo é terra, não importa se aqui ou lá”, recita Moises.

O trio de escritoras Cassiana Pizaia, Rima Awada e Rosi Vila Boas trouxe ao evento uma abordagem do refúgio na literatura infantil, contando experiências na elaboração do livro “Layla, a menina Síria”, que narra a história de uma criança que nasceu em Alepo e deixou seu país por causa da guerra, tendo o Brasil como destino. Para escrever o livro as autoras mergulharam na história da Síria, pesquisando aspectos culturais, da economia e também sobre a própria guerra.

Cassiana Pizaia, Rima Awada e Rosi Vilas Boas, autoras de “Layla a menina Síria”. Foto: Julio Carignano

O livro é o primeiro da coleção Mundo Sem Fronteiras, que tem o propósito de expandir o universo dos leitores permitindo que conheçam outras realidades e desenvolvam empatia. “Empatia é fundamental quando falamos da situação de migrantes e refugiados. Sem empatia a gente tem dificuldade de aceitar o outro, de se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro sentiu. Somente com empatia conseguimos entender o motivo que fez essa pessoa deixar sua terra e vir aqui para o nosso lado”, comenta Cassiana Pizaia.

Uma das atrações que mais empolgou os presentes foi a cantora e instrumentista venezuelana Ninoska Potella. Nascida em Caracas, ela veio para o Brasil pela primeira vez em 2011 e desde então tem sido presença marcante em eventos ligados à migração e refugiados. Junto com a dançarina síria-venezuelana Meliarqui Ybarra, Ninoska embalou a todos ao som do joropo, ritmo e dança típica da Venezuela, que é uma mescla cultural de nativos, europeus e africanos.

Artistas venezuelanas com equipe do projeto De Portas Abertas para o Mundo. Foto: Julio Carignano

A dupla veio para o Brasil buscando maiores oportunidades diante da turbulência política na Venezuela. Há oito meses em Curitiba, Meliarqui está em sua segunda experiência migratória. “Meu avô já foi migrante da Síria e agora sou eu. Essa é minha segunda experiência de migração, a primeira foi no Chile”. Engenheira de formação e dançarina profissional, Meliarqui afirma que o processo migratório tem vários desafios, mas o importante é sentir-se em casa. “Hoje você está morando aqui no Brasil, mas não sabe se amanhã estará. A terra pertence a todos, o mais importante é estar se sentindo em casa. E aqui me sinto em casa”, afirma.

Mala da Partilha

Outro atrativo do Dia Mundial do Refugiado em Curitiba foi a “Mala da Partilha”, um projeto lançado em Brasília em junho do ano passado. A iniciativa tem o intuito de reunir histórias e relatos em cinco malas que estão circulando regiões do Brasil. Nelas os migrantes e refugiados deixam seus testemunhos da experiência que atravessaram. As malas se tornarão um livro de memórias. “A ideia é dar a oportunidade de contribuir de forma pessoal e íntima com a suas experiências migratórias, independentemente do seus contextos e heranças sociais, culturais ou religiosas, com vista a uma compilação para uma publicação futura”, explica Marcia Ponce, coordenadora de projeto de migração da Cáritas no Paraná.

“Mala da Partilha” com relatos e experiências que irão virar um livro de memórias. Foto: Julio Carignano

Marcia destaca que o Dia Mundial do Refugiado deste ano em Curitiba teve um formato diferente dos anos anteriores. “Normalmente fazemos seminários, rodas de conversas, trazendo os temas mais desafiadores da migração. Esse ano buscamos um evento onde eles pudessem expor suas criatividades, expor a riqueza cultural e a diversidade que a migração traz ao nosso país”, destaca.

O formato foi enaltecido pelos presentes. “Achei um movimento muito interessante, reunir imigrantes de vários países que se sentem acolhidos aqui e que, apesar das dificuldades, demonstram alegria pelo recomeço e pelas oportunidades. Somos um país formado por imigrantes e é muito rico ver que estamos acolhendo novos”, comentou a servidora pública Jessica de Lima da Silva, que pela primeira vez participou de uma celebração do Dia Mundial do Refugiado em Curitiba.