Um título para Tito

Homenagem a jovem que faleceu no dia 13 de agosto marcou a decisão da Taça das Favelas Paraná





Familiares de Tito e os campeões da Taça das Favelas 2019. Foto: Júlio Carignano

A expressão popular “não é só futebol” fez todo sentido neste sábado, dia 31 de agosto, no estádio Couto Pereira. A casa do Coritiba, que já foi palco de grandes decisões, desta vez recebeu as finais da Taça das Favelas Paraná. Portões abertos de forma gratuita para que moradores de comunidades de Curitiba e região metropolitana pudessem prestigiar seus jovens com idade entre 14 e 17 anos.

Como manda o figurino de grandes finais, os jogos das categorias masculino e feminino foram carregados de tensão, emoção, surpresas e muitos gols. Teve equipe perdendo a principal jogadora, teve bronca com a arbitragem, “catimba”, teve choro de capitães levantando taças e banho da vitória no treinador. Porém, a festa teve uma ausência sentida por todos.

O jovem Kristopher Pereira dos Santos, o “Tito”, estaria em campo jogando pelo Butiatumirim, equipe de Colombo que disputou a final do masculino contra o Operário Pilarzinho. Estudante de Almirante Tamandaré, onde treinava na Escolinha do Coxa, Tito morreu em acidente de trânsito no dia 13 de agosto, três dias após completar 17 anos. Ele estava em um carro com outras duas pessoas que também faleceram.

Seus pais, Fernando e Tatiane, além de outros parentes e amigos, estiveram no Couto Pereira com faixas e camisetas em lembrança à Tito. Os atletas do Butiatumirim entraram em campo em luto e trouxeram rosas brancas para homenagear o ex-colega. “É muito duro estar aqui, eu confesso, o sonho dele era ser jogador. Saber que ele poderia estar ali dentro do campo, no lugar que ele mais gostava de estar é muito doloroso”, disse Tatiane, grande incentivadora do filho no futebol.

Tatiane, mãe de Tito, recebeu rosas brancas dos ex-companheiros de seu filho. Foto: Julio Carignano

Antes do pontapé inicial, o treinador reuniu os atletas do Butiatumirim e nas palavras de ordem falou para que seus comandados jogassem por Tito, disputassem cada bola e cada dividida por ele. Em campo, a equipe de Colombo foi superior ao Operário Pilarzinho, venceu por 3 a 1 e ofereceu o título da Taça das Favelas para Tito. “Nós sentimos muito a ausência dele [Tito] em cada treino, em cada jogo, ele era um jovem contagiante. Estamos aqui nessa mistura de dor e felicidade, mas sabemos que ele está num bom lugar e que ele gostaria de ver essa festa”, ressaltou o técnico Michel Cecon.

Breno Strapasson, capitão do Butiatumirim, lembrou de uma conversa que teve com Tito dias antes do acidente fatal. “Uma semana antes do que aconteceu ele falou pra mim que essa final era a oportunidade da vida dele. Ele estava muito feliz de poder jogar uma final no Couto Pereira. O sonho dele foi interrompido, mas estamos aqui para honrar ele”, disse o atacante.

Oportunidade

Assim como Tito, Breno sonha em ser jogador profissional. E ao fim do jogo, recebeu uma notícia que lhe pegou de surpresa e que fez o título ter um sabor ainda mais especial. Ele e o zagueiro Nícolas foram convidados por um conselheiro do Coritiba para fazer testes nas categorias de base coxa-branca devido a atuação de ambos na decisão.

Dobradinha de Colombo

E não foi somente o Butiatumirim que levou um título para o município da região metropolitana de Curitiba. Colombo fez uma dobradinha e, assim como no masculino, levantou a Taça das Favelas na categoria feminina. As garotas do Jardim Paloma golearam a equipe do Parolim por 4 a 0.

Garotas do Jardim Paloma venceram a final feminina. Foto: Júlio Carignano

Uma das principais personagens da decisão foi a meia Tati, do Jardim Paloma. Com estilo clássico, a meio campista abriu a goleada, mas logo depois sofreu uma contusão e precisou deixar a partida. Com a perna direita toda enfaixada e com uma tala, a camisa 10 chorou de dor no banco de reservas, mas alegrou-se com os gols de Vitória, Nadiny e Bugô que completaram a goleada.

Ao fim da partida, Tati foi carregada pelas colegas e pelo pai para comemorar o título junto com as demais jogadoras e a torcida que vibrava na arquibancada. “Machuquei sozinha, já tinha um problema nesse joelho e na hora que fui chutar senti. Mas o que importa é o resultado e esse título”, disse Tati. “Falei para ela lá no banco, que a tristeza daqueles minutos da contusão seria recompensada no final”, completou seo João, pai da jogadora.

Gol para toda vida

Em sua segunda edição no Paraná, a Taça das Favelas envolveu desde a fase de peneiras cerca de 2,5 mil pessoas, entre atletas e comissões técnicas. Ao todo foram 16 equipes masculinas e quatro femininas. Com o slogan “um gol para toda vida”, o torneio promoveu a inclusão social e demonstrou mais uma vez que “nunca será só um jogo”.

Confira abaixo imagens das finais da Taça das Favelas Paraná 2019.