Paraísos fiscais desviam R$ 2,7 trilhões dos lucros das multinacionais

40% dos ganhos são destinados a esses países para fugir de impostos





Cidade do Panamá, um dos principais paraísos fiscais do mundo . Foto: Pixabay

Já pensou se o excedente do lucro das multinacionais fosse parar na segurança, saúde e educação da população mundial? Os governos não precisariam aumentar tempo de contribuição da aposentadoria, reduzir direitos trabalhistas, querer cortar 13o salário, congelar reajuste do salário mínimo, como no Brasil. É isso que se chama de distribuição de renda. Contudo, 40% dos lucros das multinacionais têm outros destinos. Eles alimentam paraísos fiscais. 

E não estamos falando de pouco dinheiro. De acordo com pesquisas das Universidades da Califórnia, Berkeley e da Universidade de Copenhague, em 2016, cerca de 650 bilhões de dólares foram transferidos para paraísos fiscais. Isso representa 2,7 trilhões de reais. Como comparação, o PIB do Brasil em 2018 foi de R$ 6,8 trilhões.

Segundo os pesquisadores, “as empresas multinacionais transferem lucros para paraísos fiscais para reduzir suas contas fiscais globais. Tomemos o exemplo do Google: em 2017, o Google Alphabet registrou uma receita de US $ 23 bilhões nas Bermudas, uma pequena ilha no Atlântico onde a taxa de imposto de renda das empresas é zero”.

O estudo revela que a maior transferência está na Europa nos países que não considerados paraísos fiscais. Por outro lado, “as multinacionais norte americanas transferem comparativamente mais lucros (cerca de 60% de seus lucros estrangeiros) do que as multinacionais de outros países (40% para o mundo em média)”.

17% da receita tributária dos EUA é perdida. A França perde 24% dos lucros e na Alemanha 29% das receitas que poderiam gerar impostos são transferidos para paraísos fiscais. Cerca de 66 bilhões de dólares são transferidos para os paraísos, se perdendo cerca de 19,8 bilhões de dólares.

Gráfico mostra países com perdas tributárias e paraísos fiscais em verde. Fonte: Missing Profits

O mapa produzido pelo site missingprofits.world calcula que “o Brasil perde 10% de sua receita tributária por causa desses paraísos fiscais”. São enviados para fora do país US$ 17,3 bilhões e cerca de US$ 5,8 bilhões (R$ 24 bilhões) é perdido em receita tributária. A maior parte desses lucros que não são tributados vai parar em paraísos na União Européia (US$ 7,3 bilhões) e em Bermudas, Caribe, Porto Rico, Hong Kong, Cingapura e outros (US$ 7,3 bilhões).

Receitas conquistas
O dinheiro que deixa nações e povos é transferidos para micropaíses como as Ilhas Marshall, na Oceania. O mapa aponta que 26% de suas receitas tributárias provém da atração artificial de recursos oriundo do lucro das multinacionais. A taxa de imposto é de apenas 3%.

Primeiro Ministro da Islândia, Sigmundur David Gunnlaugsson, renunciou após vazamentos do “Panama Papers”. Foto: Control Arms/Fotos Públicas

Já o “Panamá recolhe 77% de suas receitas tributárias, atraindo artificialmente US $ 18 bilhões em impostos sobre os lucros”. Ainda na América Central, as Ilhas Cayman, mas conhecida pelo noticiário policial em casos de corrupção, concentra 100% de suas receitas tributárias com os depósitos dos lucros vindos no exterior. Como exemplo, recentemente a banqueira Kátia Rabello, do Banco Rural, envolvida no mensalão, ganhou uma causa na Ilha porque o escritório que a defendia quebrou o sigilo de confidencialidade. Ela chegou a ser presa em 2013. Já em relação ao paraíso fiscal, cerca de US $ 14,9 bilhões foram transferidos para o país. A taxa de imposto é zero.