Petroleiros promovem ato público contra fechamento da Fafen-PR, em Araucária

Fábrica está em vias de ser fechada pela Petrobras e a decisão afetará diretamente a vida de mil famílias





Ato em frente a Fafen, em Araucária. Foto: Igor Barrankievcz

Nesta sexta-feira (17) foi realizado um ato público em defesa da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen-PR), unidade da Petrobras em Araucária, região metropolitana de Curitiba. A fábrica está em vias de ser fechada pela estatal e a decisão afetará diretamente a vida de mil famílias, entre trabalhadores da estatal e terceirizados, além de provocar impactos econômicos na região.

Além da mobilização em frente a Fafen, na Rodovia do Xisto, outros atos em solidariedade aos trabalhadores foram realizados em unidades da Petrobras pelo país. “Estamos em luta para preservar os empregos e direitos dos trabalhadores e manter a unidade funcionando, pois não há justificativas para o fechamento da fábrica”, afirma Gerson Castellano, funcionário da Araucária Nitrogenados e diretor do Sindiquímica-PR.

O pretexto utilizado pela Petrobras para o fechamento da Fafen é um suposto prejuízo com a unidade. Essa justificativa é contestada pelos sindicatos que representam os trabalhadores da empresa. “Isso é uma mentira (o prejuízo). A gestão da empresa fez uma escolha de encarecer a própria matéria-prima para produzir os fertilizantes. Foi uma decisão política e não técnica”, afirma Castellano.

O presidente do Sindipetro-PR/SC, Mário Dal Zot, também desmente o argumento. Ele afirma que a companhia faz manobras contábeis como pretexto para o fechamento da Fafen-PR. “Isso (o prejuízo) não acontece em hipótese alguma, pois a fábrica utiliza como matéria prima o RASF, um refugo da Repar (refinaria da Petrobras em Araucária), ao qual agrega valor, transformando em ureia, um fertilizante do qual o Brasil é extremamente dependente.”

Presente no ato público, o ex-senador e governador Roberto Requião alertou para os prejuízos que o fechamento da fábrica causará ao município de Araucária. “O comércio de Araucária vai perder 4 mil consumidores e R$ 10 milhões por ano. Existe um interesse social para além do interesse do emprego e do trabalho”, destacou.

Ele cobrou uma posição dos atuais senadores e do governo do Paraná. “O ideal neste momento seria um enfrentamento político. Quando fui governador do Estado tentaram fechar a Repar. Porém hoje não vejo essa possibilidade de enfrentamento político. Temos três senadores que não farão esse enfrentamento. Os três que estão lá [Alvaro Dias, Oriovisto e Flavio Arns] dificilmente se colocarão contra o fechamento da Fafen”, afirmou.

Para o ex-governador, o governo Bolsonaro quer transformar o Brasil em um país sem industrialização, dependente do agronegócio. “O que acontece com a Fafen é o que acontece com o país. O projeto de um país não industrializado, com uma agricultura voltada não a alimentação de seu povo, mas voltada a produção de soja, milho e algodão pra alimentar o gado de países desenvolvidos e dependente de nações como os Estados Unidos”.

Seguindo a linha do pai, o deputado estadual Requião Filho também cobrou um posicionamento de seus colegas na Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). “Eles [deputados] vieram aqui em Araucária pedir voto e virão novamente. Porém, também não tenho fé de que meus colegas de Assembleia – com exceção dos deputados da oposição – se posicionem contra o fechamento da fábrica”, cutucou.

Professora Josete (PT), vereadora em Curitiba, também esteve em Araucária para prestar sua solidariedade aos trabalhadores e destacou o papel estratégico da estatal para a soberania nacional.“Há uma política de desmonte iniciado com Temer e que segue no governo Bolsonaro. Um desmonte de todo um investimento feito durante os governos Lula e Dilma”.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores do Paraná (CUT), Marcio Kieller, afirmou que o momento é de enfrentamento e resistência dos sindicatos. “Estamos em uma ofensiva de um governo eleito para o mercado e não para a maioria da classe trabalhadora”. Na opinião de Priscila Patrício, diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), o governo quer “matar a indústria do país e isso significa a morte de uma sociedade mais independente”.

Inaugurada em 1982, a Araucária Nitrogenados (Fafen-PR) tem capacidade de produção diária de 1.975 toneladas de ureia, 1.303 toneladas de amônia, entre outros produtos. Com o fechamento da fábrica, o Brasil terá que importar 100% dos fertilizantes nitrogenados que consome, segundo a FUP. Além disso, o país se tornará dependente da importação de ARLA 32, um reagente químico usado para reduzir a poluição ambiental produzida por veículos automotores pesados.