Rock, amônia e resgate de trabalhadores na Fafen no 1º dia de Greve Nacional

Neste sábado (1º) foi iniciada a greve de trabalhadores do Sistema Petrobras em 10 estados do país





Momento da saída de trabalhadores que permaneceram 20 horas dentro da fábrica. Foto: Júlio Carignano

Neste sábado (1º) foi iniciada a greve nacional por tempo indeterminado de trabalhadores do Sistema Petrobras em pelo menos dez estados do Brasil. A categoria contesta o modelo de gestão da empresa e a demissão de mil funcionários na Fábrica de Fertilizantes Araucária Nitrogenados (Fafen-PR), na região metropolitana de Curitiba. A mobilização, organizada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), atinge 15 unidades da empresa e subsidiárias.

O fechamento da Fafen foi anunciado pela Petrobras no dia 14 de janeiro e as demissões devem iniciar no dia 14 de fevereiro com uma primeira leva de 100 funcionários. Desde o anúncio os trabalhadores montaram um acampamento em frente à fábrica, em Araucária. Neste sábado a ocupação completou seu 12º dia e recebeu uma atividade cultural com as bandas Riste (Curitiba), Buda Bong e Sr.Barão (Araucária), sendo a última delas composta por trabalhadores da Fafen.

Além da ocupação cultural, o início da greve no Paraná também foi marcado pela presença de um equipe do Ministério Público do Trabalho (MPT-PR) que esteve no local para resgatar cerca de 50 trabalhadores que estavam por mais de 20 horas dentro da fábrica. O órgão foi acionado pelo Sindiquímica-PR, uma vez que a empresa negou-se a liberar os funcionários que trabalhavam numa caldeira onde aconteceu um vazamento de amônia na última sexta-feira (31). O grupo cumpria seu turno normal quando foi iniciada a greve, porém foram impedidos a deixar seus postos ao término de seus horário de saída pela gestão da fábrica.

Equipe do MPT-PR chegando na empresa para liberar trabalhadores. Foto: Júlio Carignano

“Esse grupo entrou às 15h de sexta e sairia às 23h, porém como foi deflagrada a greve, eles ficaram mais um turno de 8 [horas] e completaram 16 horas. A empresa quando se reuniu com o sindicato informou que não precisaria dessa mão de obra, porém eles [gestão] seguraram nosso pessoal por mais 4 horas e eles ficaram 20 horas seguidas dentro da fábrica. Então acionados o Ministério Público pois já estava caracterizado um cárcere privado dos companheiros”, esclareceu Paulo Antunes, técnico de manutenção e diretor do Sindiquímica-PR.

Após uma negociação entre o MPT, diretores da FUP e a gestão da empresa, o grupo de trabalhadores foi resgatado. Na saída, eles foram recepcionados com aplausos pelos colegas e familiares de funcionários que acompanhavam o ato cultural na ocupação em frente a Fafen. O MPT verificou as condições de trabalho e fez oitivas com o grupo que permaneceu por mais de 20 horas na fábrica.

Gerson Castellano, diretor da Federação Única dos Trabalhadores (FUP), afirmou que o movimento grevista seguirá até que as demissões sejam suspensas por prazo indeterminado. “A gente só suspenderá esse movimento quando forem suspensas essas demissões. Sem isso ninguém entrará na fábrica. Entrar para trabalhar na fábrica sabendo que pode ser um dos demitidos no dia 14?”, questiona Castellano.

Amônia e ondas sonoras no ar

Na sexta-feira (31) ocorreu o vazamento de amônia na Fafen-PR. A ocorrência foi confirmada pela Defesa Civil, que esteve na sede da fábrica. A Araucária Nitrogenados S/A (Ansa), subsidiária da Petrobras e dona da fábrica, afirmou que o vapor oriundo do sistema de alívio de pressão do tanque, ao ser dispersado na atmosfera, não causa danos à população nem ao meio ambiente. Já a FUP aponta que o vazamento de amônia aumenta a insegurança dos trabalhadores e pode atingir a comunidade de Araucária.

Bandas de rock se apresentaram no primeiro dia da greve. Foto: Júlio Carignano

Na tarde deste sábado (1º), enquanto ocorrida a atividade cultural na ocupação, foi possível constatar o cheiro forte da amônia no ar. O que não impediu que trabalhadores e familiares curtissem as músicas de protesto que embalaram o primeiro dia da greve nacional na ocupação em frente à Fafen-PR.

“Essa atividade cultural serve para prestarmos mais esclarecimentos sobre a luta da categoria e também para aliviar esse sentimento de pressão que estamos sofrendo da empresa. A cultura, a música, a poesia também são formas de protesto”, afirma Paulo Antunes, que é dirigente sindical e se apresentou com sua banda Sr. Barão.

Os integrantes das outras bandas convidadas a tocar no acampamento prestaram sua solidariedade aos petroleiros e petroquímicos. “Tenho uma relação muito especial com a Fafen, tenho familiares que já trabalham aqui, eu já trabalhei aqui também. Então é muito importante para mim estar aqui se apresentando nesta ocupação e apoiando essa luta”, comentou Giovani Nascimento, vocalista da banda Buda Bong. “O punk rock é a trilha sonora da resistência. Nos sentimos honrados por participar deste momento de luta”, destacou Regis Cardoso, vocalista e guitarrista da Riste.