Comunidades rurais preparam doação de 50 toneladas de alimentos para famílias de Guarapuava e Pinhão neste sábado (30)

Ação envolve mais de 30 comunidades, entre assentamentos e acampamentos do MST, áreas de posseiros e povos faxinalenses





Foto: Wellington Lenon/MST

Agricultores assentados, acampados, posseiros e faxinalenses do centro-sul do Paraná se uniram para a doação de aproximadamente 50 toneladas de alimentos para famílias moradoras da periferia de Guarapuava e Pinhão, neste sábado (30). A ação é em solidariedade às famílias urbanas que já enfrentam a falta de comida neste período de pandemia do novo coronavírus. A organização da atividade vem acontecendo há pelo menos duas semanas e a coleta dos alimentos será entre quarta e sexta-feira. 

A diversidade das doações vai desde o feijão e arroz, que não podem faltar na mesa do povo brasileiro, até o pinhão e a erva-mate, típicos da cultura do sul do Brasil. Também será doado quirera, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana, sabão caseiro. 

Entre as comunidades que irão doar alimentos está o Alecrim, de Pinhão. A vila de posseiros ficou conhecida no Paraná e no Brasil após a repercussão do despejo violento e repentino ocorrido em 1º de dezembro de 2017. Naquele dia, máquinas destruíram uma igreja, casas, um posto de saúde, uma padaria comunitária e outras estruturas comunitárias construídas ao longo de 23 anos de ocupação da terra. 

As famílias de 20 famílias do local viveram dias de desespero, sem terem tido tempo de tirar seus pertences das casas ou de colher a produção da roça. Uma semana depois, realizaram um protesto na rodovia PR-170, em articulação com famílias assentadas. No dia 14 de dezembro, decidiram voltar a ocupar a área e iniciaram a reconstrução da comunidade. Em fevereiro de 2018, a Justiça determinou a suspensão da reintegração de posse. O Incra já manifestou interesse em comprar a área. 

Assim como a comunidade do Alecrim, cerca de metade dos 30 mil habitantes de Pinhão vivem em terras tomadas pela família Zattar desde 1940. Desde os anos 1990, o Estado reconhece a existência de conflitos que demandam a regularização fundiária das áreas na região, porém, a demora na efetivação coloca milhares de famílias e situação de ameaça de despejo. Estudos acadêmicos apontam a obtenção ilegal de terras por parte dos Zattar, donos de uma madeireira, bem como os malefícios que suas práticas geram à sociedade brasileira, inclusive com altas dívidas fiscais .

O artigo acadêmico “Madeira sem lei: memória de um conflito fundiário no Paraná”, publicado em 2010 pela pesquisadora Dibe Salua Ayoub, da UFPR, aponta que a empresa comprava madeira dos posseiros e faxinalenses entre as décadas de 1950 e 1980. Na época, a maior parte da população rural era analfabeta, e a madeireira ficou conhecida por aproveitar-se disso para enganar as famílias moradoras da região. Enquanto imaginavam estar assinando contratos para a venda da madeira, na verdade, formalizam a venda dos próprios terrenos, situação que dá origem a parte dos conflitos por terra na região. 

Doações do MST

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) de todo o Brasil está em campanha permanente de solidariedade e já doou mais de 1.200 toneladas de alimentos. No Paraná, 28 acampamento e 36 assentamentos doaram cerca de 100 toneladas de comida saudável desde o início da pandemia até o dia 21 de maio. Também foram produzidas 2.200 marmitas agroecológicas e 400 máscaras de tecido.