Trabalhadores do comércio são os que mais sofrem com a pandemia

Dos 10 milhões de trabalhadores atingidos pela MP 936, 25% são deste setor





Foto: Gibran Mendes

Os trabalhadores do comércio estão entre os mais afetados pela pandemia do coronavírus. Entre janeiro e maio, foram fechados 446 mil postos de trabalho formais no setor. E boa parte dos que não foram demitidos também sofre os impactos: cerca de 2,5 milhões tiveram contratos suspensos ou jornada e salário reduzidos, conforme autorizado pela MP 936. Para agravar a situação, quase 1/3 dos trabalhadores do setor são informais e, com a crise do coronavírus, perderam a renda. Se o governo não implementar novas medidas para fazer com que o crédito chegue às micro e pequenas empresas, milhares de negócios do setor desaparecerão, deixando outros milhões de trabalhadores sem trabalho e renda. Essa é a avaliação da pesquisa “A covid-19 e os trabalhadores do Comércio” feita pelo DIEESE.

Em 2020, apesar de mais uma vez o governo começar o ano fazendo projeções
otimistas para o crescimento do PIB, na casa dos 2,5%, a divulgação da queda de 1,5% no
PIB no 1º trimestre evidenciou que o desempenho da economia já vinha aquém do
esperado antes dos efeitos provocados pelo novo coronavírus. No 1º trimestre de 2020,
o consumo das famílias caiu 2% ante o 4º trimestre de 2019 e o PIB do comércio registrou
retração de 0,8%, também em relação ao trimestre anterior.

A pandemia encontrou uma economia enfraquecida devido à baixa taxa de
investimento, elevada ociosidade, precarização do mercado de trabalho e crescimento das
desigualdades sociais, em razão das políticas neoliberais implementadas desde 2016 e
aprofundadas no atual governo. A situação de variáveis que influenciam o consumo –
emprego, renda, crédito, juros e confiança – já apresentava debilidade nos primeiros
meses do ano e se agravou profundamente com a pandemia.

Crise é anterior à pandemia

Segundo o estudo, para recuperar o consumo é necessário não só promover políticas de emprego e renda para as famílias, mas também garantir que as pessoas se sintam seguras e confiantes. É preciso ter um plano de gestão da pandemia, construído por meio de amplo
diálogo social, que proteja as vidas e a economia, que diminua as incertezas e aponte
soluções confiáveis e saídas seguras enquanto a vacina não chega.

No entanto, as vendas já estavam fracas por conta da baixa renda disponível e do fechamento da grande maioria dos estabelecimentos de rua e dos shoppings centers, a partir da segunda metade de março; o comércio varejista não escapou da queda no mês de abril.

Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE (PMC/IBGE), o volume de vendas caiu
17,5% de março para abril de 2020 e recuou 27,1% na comparação com abril de
2019; queda recorde na série histórica iniciada em janeiro de 2004.

Em decorrência dessa situação, observa-se um grande volume de pedidos de
seguro-desemprego; entre janeiro e maio de 2020, do total de solicitações, 26% (248 mil)
foram de trabalhadores desempregados do comércio. Em maio de 2020, houve um
crescimento de cerca de 36% no número de pedidos de seguro-desemprego quando
comparado com o mesmo mês do ano anterior. Na comparação de maio com abril de 2020,
o aumento nos pedidos foi em torno de 20%.

Finalmente, cabe observar que as vendas no comércio, que já vinham fracas em
razão do desemprego e da pouca renda disponível, despencaram em abril, registrando
uma queda de 17,5% em relação a março de 2020 e um recuo de 27% comparativamente
a abril de 2019; a maior queda na série histórica iniciada em 2004, conforme revela a PMC
do IBGE.