Uma das coisas que me deixa irritado é economia de opiniões. Para que poupar algo que a fonte é infinita. Se os posicionamentos farão desafetos ou admiradores é consequência. Assim pensava o jornalista Tarso de Castro, que marcou história nas décadas de 1960 e 1970 no Brasil do AI-5, e que completaria 79 anos.
Nascido em 11 de setembro de 1941, Tarso era gaúcho de coração e carioca por vocação. Foi um dos criadores de O Pasquim, jornal que fez história ao ser concebido na égide dos anos de chumbo da ditadura milico-empresarial. É de Tarso, o DNA sarcástico e debochado do semanário.
Polêmico, brigão e subversivo, Tarso era daqueles “malditos” que fechava bares, alugava carros e aprontava em hotéis de luxo, ao melhor estilo Gonzo Jornalismo. Comprou brigas homéricas pelas redações que passou – com diretores e editores – mas nem mesmo os amigos mais próximos escapavam de seu temperamento tempestuoso.
Um “enigma” sempre foi uma pulga atrás das orelhas de seus camaradas: o charme do maldito. Mesmo desajeitado, feio, desleixado consigo e sem onde ter para cair morto, teve relacionamentos com belas mulheres. De uma dessas aventuras, uma história bem ao “estilo Tarso” em seu namoro com a atriz estadunidense Candice Bergen.
O jornalista adorava exibir a atriz uma fotografia pessoal ao lado do revolucionário argentino Che Guevara. Já a atriz, se vangloriava de ter namorado um “guerrilheiro que participou da revolução cubana”. Sim, ela caiu no “conto do malandro Tarso”. Na verdade o registro era de Tarso na condição de entrevistador quando o Che esteve em visita ao Brasil, porém a história que ele contou para a gringa foi outra.
Após 30 anos ininterruptos de consumo de álcool e sua oitava hemorragia interna, Tarso foi tomar seu scotch em outro universo. O dia: 20 de maio de 1991. Uma morte que não surpreendeu os mais próximos, pois ele mesmo pregava que “após os 40 anos a vida não teria mais graça”. Viveu nove a mais do que o limite que queria.
Seu corpo foi transladado para Passo Fundo, sua cidade natal. Lá um personagem símbolo dos anos de chumbo lhe aguardava: Romeu Tuma, então superintendente da Polícia Federal que, ao ver o caixão, disparou: “Restos mortais de um subversivo boca suja”.
Tuma tinha razão, Tarso subverteu o jornalismo. Nas palavras de Otto Lara Resende: “Tarso tinha defeitos visíveis e qualidades nem sempre visíveis, sobretudo para quem o via de longe, ou o sofria de perto”.
Tarsos fazem falta. Hoje, o “boca suja” estaria na trincheira fazendo diferença!
“Devo ter todos os defeitos possíveis, mas faço questão de exercer minhas virtudes”
Tarso de Castro