ENTREVISTA 2TOQUES: Juliana Mildemberg e as mulheres na pandemia

Neste 8 de março, a jovem e professora de educação infantil comenta os desafios neste momento conturbado do Brasil e de Curitiba





Juliana Mildember. Foto: Arquivo Pessoal

Este 8 de março é muito diferente do ano passado. Nesta época completamos um ano da pandemia de Covid-19. E o coronavírus, aliado às políticas adotadas, tem sido cruel com as mulheres. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, 53% das mais de 650 mil pessoas contaminadas no estado eram mulheres. Desses números, a maioria tem entre 20 e 50 anos. Com relação às mortes, 41% foram mulheres paranaenses. Já a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba contabilizou até o fim de fevereiro 75 mil mulheres contaminadas. O que representa 54% da população infectada. 

Nesta ENTREVISTA 2TOQUES, a jovem professora de educação infantil, Juliana Mildemberg fala dos desafios que as mulheres têm enfrentado. Ela comenta o surto de contaminação entre professoras, os anseios no ambiente escolar, os erros na gestão da Prefeitura de Curitiba, a necessidade de imunizar a população e de trabalhar por um mundo melhor. Veja a entrevista abaixo.

A Prefeitura de Curitiba forçou o retorno das aulas e teve que recuar. Greca ignorou os alertas da base?
A prefeitura está sendo negligente e não ouviu os profissionais da educação. O retorno das crianças contribuiu para o aumento das contaminações. São cerca de 150 mil pessoas, famílias, em risco. O retorno já contaminou nossos profissionais.

Como foi voltar nesses dias? Qual era a principal preocupação?
A maior preocupação sempre foi trazer o vírus para dentro de casa e contaminar meus familiares. Tem sido triste olhar para a sala vazia com falta de crianças. Isso me emociona e me deixa aflita. 

Temos visto notícias de professoras contaminadas e morrendo enquanto educação se torna essencial, mas não tem prioridade na vacinação. Qual é a sensação?
Voltar sem vacina é muito preocupante. Nós estamos em contato direto e não estaremos imunizados. Isso preocupa a educação e outros profissionais do serviço público. Não entendemos porque não tem a prioridade. Mas entendo que a vacina é fundamental para toda a população.

De acordo com as Secretarias de Saúde de Curitiba e do Paraná, as mulheres são a maioria entre as contaminadas. Você acha que deveria ter uma campanha específica para elas?
Eu acredito que se dá porque as mulheres têm sido provedoras do lar e dos cuidados em casa. Isso nos  coloca em maior risco. No serviço público, as mulheres são maiores do que os homens. Portanto, saem mais de casa. A Secretaria de Saúde poderia pensar em um formato para trazer a imunização em especial para as mulheres.

Neste 8 de março, que reflexão pode ser feita com relação às lutas atuais?
A gente tem que refletir no que é ser mulher nesta sociedade e durante esta pandemia. Ver os efeitos no ambiente de trabalho. A gente tem que tentar melhorar o mundo para todos. Uma homenagem para nós que somos professoras, médicas, enfermeiras, cozinheiras, que trazemos o sustento para nossa casa. Somos todas Julianas, Soraya, Lóides, Mônicas, Salete, Marias, Irenes. Essa é a nossa homenagem.