Desde que a pandemia começou há mais de um ano, o transporte público sempre foi alvo de debates. Considerado serviço essencial, ele nunca parou, levantando questionamentos de outros setores como o do comércio sobre os riscos de contaminação. O ônibus quase foi proibido de circular quando o prefeito Rafael Greca (DEM) prorrogou a bandeira vermelha. Uma liminar do TCE suspendeu o transporte no dia 19. Decisão essa cassada no mesmo dia. 

Para o deputado estadual Tadeu Veneri (PT), no entanto, a situação é mais complexa. Ela envolve o direito de ir ao trabalho sem ser exposto à contaminação por aglomeração. O petista é autor de um projeto de lei regulamentando o uso dos ônibus e que, incrivelmente, aguarda há 10 meses para ser votado. Nessa ENTREVISTA 2TOQUES, Veneri explica a questão do ônibus, os direitos dos usuários e as decisões do poder público. “Os profissionais do transporte estão morrendo. Já são mais de 100 vítimas”, alerta.

Confira a entrevista e os vídeos.

1) O transporte coletivo deve parar ou reduzir sua capacidade? 
Veneri: Ele não deve parar, mas ser adequado às condições sanitárias que estamos vivendo. As pessoas não podem andar superlotadas, como na RMC. Eu defendo ônibus adaptados. As empresas tiveram recursos a mais, só que sem contrapartida.

2) Se o ônibus parar, os trabalhadores não serão prejudicados?
Veneri: Os trabalhadores são prejudicados em todos os sentidos. Nós podíamos ter um escalonamento. Os profissionais do transporte estão morrendo. Já são mais de 100 vítimas. Além disso, 70 mil pessoas utilizam o transporte e poderiam ser criadas outras alternativas de transporte como ônibus fretados, vans, etc. 

3) O senhor apresentou um projeto sobre o transporte e após 10 meses ele pouco andou na Alep. O que falta para ser aprovado?
Veneri: O projeto prevê uma lotação de até 50%. Ele foi colocado agora para ser relatado na CCJ. O relator é o deputado Homero Marchese (PROS) e ele encaminhou para o parecer do DER e da Secretaria de Transporte. Nos próximos dias devemos ter uma saída. Não é possível esperar o fim da pandemia, ainda mais porque o transporte teve diversos benefícios, inclusive fiscais.

4) O prefeito Rafael Greca e o governador Ratinho Junior mantêm o transporte pensando no cidadão ou no interesse dos empresários?
Veneri: Tanto o governador como o prefeito têm ligações estreitíssimas com os donos do transporte muito antes da eleição, os verdadeiros donos da cidade e do estado. Portanto, é muito pouco provável que eles fizessem uma opção voltada para a maioria da população. O comércio até fez apelo para alternativas do transporte e não foi aceito. 

5) Trabalhadores do transporte devem ter prioridade na vacina e quando, já que não tem vacina suficiente atualmente?
Veneri: O problema é ter as vacinas. E está faltando. Vivemos um período de negacionismo imenso, com um presidente e um ex-ministro incompetentes. Falar em prioridade para os trabalhadores do transporte é uma questão de justiça, assim como para os professores e trabalhadores do sistema de justiça. Atualmente, são os motoristas, cobradores e seus familiares os que mais estão expostos à contaminação.