Retorno em julho coloca em risco a comunidade escolar

Apenas vacinação não garante que crianças não contraiam o vírus




FonteColetivo Sismuc Somos Nós

Foto: Valdecir Galor/SMCS

A Prefeitura de Curitiba anunciou o retorno das aulas presenciais na rede municipal de educação para julho, após o recesso de meio de ano. O argumento para a volta de 50 CMEIs e 50 escolas a partir de 19 de julho e para demais aparelhos do sistema híbrido a partir de 2 de agosto é o avanço da vacinação dos professores. Mas o argumento não leva em consideração os grandes impactos na comunidade escolar. Qualquer retorno deve prever e prevenir os riscos para os pais e as crianças, tendo como prioridade a queda na transmissão, um rigoroso processo de testagem e isolamento dentro dos equipamentos e desocupação dos leitos de UTI e enfermaria.

Não faz muito tempo, perdemos mais duas professoras para a pandemia. Elas, infelizmente, se somam há muitos profissionais vítimas da Covid-19. Mesmo assim, indiferente, a Prefeitura de Curitiba anuncia, via decreto, o retorno das atividades presenciais na educação. Como de praxe dessa gestão, o decreto foi publicado às pressas e o diálogo foi substituído por uma reunião com gestores na noite de véspera. 

O retorno para daqui poucos dias ignora a taxa de ocupação dos leitos de UTI acima de 90% (em 25 de junho) e o alto índice de casos ativos: 7713. A gestão sustenta o seu retorno na propaganda da vacinação. No entanto, desde o anúncio da vacinação de adultos até setembro, a cidade teve diversos episódios de suspensão da imunização por falta de vacinas. O caso mais recente restringiu a vacinação apenas aos profissionais da saúde por escassez do imunizante.

A vacinação dos profissionais da educação não é suficiente, segundo especialistas. O risco de um retorno presencial se mantém para a comunidade escolar, conforme explica Lucas Ferrante, que é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia  (Inpa) ligado à Fiocruz. “Vacinar educadores e convocar aulas presenciais irá manter a pandemia ativa. Mesmo os imunizados podem contrair, de forma branda, e transmitir a doença”, afirma o especialista.

Já a nota técnica Quantificando o impacto da reabertura escolar durante a pandemia de covid-19, publicada pelo projeto ModCovid19, coordenado por Claudio Struchiner (FGV e UERJ) e Tiago Pereira (USP São Carlos), alerta para o perigo da volta às aulas nas escolas públicas, sem nenhuma medida de monitoramento – testagem, rastreamento do vírus, isolamento se necessário. Isso pode significar um aumento de 270% nas infecções por coronavírus na comunidade escolar, em até 80 dias letivos.

“Vacinação de profissionais é uma medida essencial para potencializar o efeito da redução de turmas. Ainda assim, somente a imunização de funcionários não é suficiente para barrar a cadeia de contágio em ambiente escolar: o número de infecções na comunidade escolar aumenta em 178% quando comparado à situação de escolas fechadas”, diz o estudo.

O fato é: a vacina ainda não chegou para todos. Um exemplo são as famílias curitibanas que não foram imunizadas e ainda vivencia a instabilidades das bandeiras laranjas e vermelhas e as novas cepas que circulam livremente em nossa cidade, apontando para a fragilidade das ações da Gestão Greca e do governador Ratinho Junior no controle da pandemia. Curitiba, atualmente, é a sétima capital mais atrasada no ranking de vacinação. Enquanto vacina pessoas com 48 anos, observa outras capitais como Belé, Aracaju, Fortaleza, Rio Branco Vitória e Manaus já imunizando abaixo dos 40 anos. Isso sem mencionar São Luís, que entrou na faixa dos 18 anos.

RISCOS ÀS CRIANÇAS – A imunização dos profissionais não é garantia de segurança para crianças e seus familiares. O Brasil é o 2º país com mais mortes por covid de crianças na faixa de 0 a 9 anos. Até meados de maio, 948 crianças de 0 a 9 anos morreram de covid no Brasil, segundo dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep-Gripe) compilados pelo jornal Estadão. Nesse perfil de vítimas, o Brasil fica atrás apenas do Peru. 

É fundamental que qualquer retorno leve como prioridade a utilização de máscaras, a ventilação do ambiente, a imunização coletiva, a testagem frequente e o rastreamento de casos, os impactos no transporte, a manutenção do ensino remoto, o distanciamento interno e as medidas de higiene. 

Portanto, o Coletivo Sismuc Somos Nós entende ser necessário o retorno, entretanto, questionando se haverá segurança para todos os autores envolvidos, primando pelo bem estar das crianças, nosso maior patrimônio.