Brasil tem a menor produção automotiva da década em 2020

Pandemia, crise financeira e falta de políticas para o setor retraíram comércio automobilístico





Enquanto mundo avança no carro elétrico, Brasil patina na tecnologia Foto: Luiz Costa

O Brasil teve o seu pior desempenho em 10 anos na produção de carros no ano passado. Segundo a ANFAVEA, o país só produziu 2,014 milhões de carros em 2020. O número é quase a metade da produção nacional ocorrida em 2013, quando o país produziu 3,7 milhões de carros em um período de forte atividade econômica nos anos anteriores.

Os números da retração estão contidos na nota técnica do DIEESE “A desindustrialização e o setor automotivo: retomada urgente ou crise sem fim”. Para a análise, a indústria nacional se deparou com uma crise estrutural crônica, entremeada por crises conjunturais cíclicas, agravadas com a pandemia. Segundo o estudo, o país que trabalha para atender o mercado interno, precisa encarar de frente a guerra fiscal e um novo cenário político para o setor.

“No presente momento, países como Estados Unidos, Alemanha e China estão promovendo um conjunto de ações para reposicionar suas indústrias, considerando a importância do setor industrial nos processos que oxigenam o conjunto da economia e promovem o dinamismo das inovações tecnológicas”.

Enquanto isso, no Brasil, estamos adotando o caminho inverso ao dos países centrais, como Alemanha, EUA e China, desmobilizando ou enfraquecendo os instrumentos positivos de política industrial implementados a partir de 2003.

“A partir de 2016, uma nova orientação é adotada pelo governo brasileiro, baseada no pressuposto de que o livre mercado e políticas neoliberais iriam resolver os problemas do país, incluindo a retomada dos investimentos algo que nunca aconteceu e não há evidências que esse caminho possa conduzir a fortes e bem-sucedidas políticas indústrias no Brasil e nos países capitalistas centrais”, comenta a nota técnica.

Para o DIEESE, a retomada do setor automobilístico depende do Brasil “investir no crescimento do mercado interno e seguir as tendências tecnológicas globais que abrem perspectivas positivas para o setor automotivo brasileiro”. Em nota técnica, conclui que a política pública deve considerar a relevância econômica e social do setor automotivo é, sem dúvida, uma ação pertinente para um país com as características territoriais e demográficas do Brasil.

“É preciso mudar a política macroeconômica vigente, com o abandono do receituário neoliberal e sua substituição por um modelo de desenvolvimento nacional, liderado pelo Estado, com políticas que valorizem a criação de empregos de qualidade e a inclusão social, induzindo o investimento privado e o consumo das famílias”, conclui o estudo.