Governo do Paraná fecha curso Técnico de Meio Ambiente prejudicando estudantes de sete municípios

No dia 21 de outubro, a escola foi informada que não seria mais autorizada a abertura de novas turmas





Projeto de revitalização de áreas verdes do colégio. Foto: Hedeson Alves/AEN

Na contramão da propaganda oficial do Governo do Estado do Paraná, das
reivindicações da Comunidade Escolar do Colégio Estadual Newton Freire Maia e das demandas do mercado de trabalho, o Secretário de Educação, Renato Feder, não autoriza a continuidade do curso Técnico em Meio Ambiente que funciona na escola há mais de 15 anos.

O CE Newton Freire Maia está localizado na Área de Proteção
Ambiental da Bacia do Rio Irai-conhecida com APA do Irai, município de Pinhais
na Região Metropolitana de Curitiba. Organizado de acordo com os objetivos da
APA Estadual do Irai, o curso Técnico em Meio Ambiente foi o primeiro a ser
ofertado e contribui com o desenvolvimento local e regional, por meio da atuação
na organização de programas de educação ambiental, de conservação e
preservação de recursos naturais, atendendo alunos de Pinhais, Colombo,
Quatro Barras, Campina Grande do Sul, Piraquara, Bocaiúva do Sul e Curitiba.

O curso tem convênios e parcerias com diversas instituições públicas e privadas,
desenvolvendo projetos e promovendo uma troca de aprendizagem entre os
alunos e o mercado de trabalho, tais como SANEPAR, SEMMA Pinhais, SEMMA
Colombo, SEMMA Quatro barras, Secretaria de Infraestrutura, Meio Ambiente e
Logística de Campina Grande do Sul, Centro Paranaense de Referência em
Agroecologia, Instituto Água e Terra, EMBRAPA Florestas e Centro de
Produção, e Pesquisa de Imunobiológicos.

O Colégio Newton Freire Maia atende, hoje, estudantes de diversos municípios
como Pinhais, Curitiba, Colombo, Quatro Barras, Campina Grande do Sul,
Piraquara, Cerro Azul, Adrianópolis, Bocaiúva do Sul, Dr. Ulysses, Tunas do
Paraná, Morretes, entre outros.

Quando a Secretaria de Educação deu a primeira negativa sobre a continuidade
do curso, a comunidade escolar reagiu com abaixo-assinados, buscou o apoio
de vereadores dos municípios atendidos, além de prefeitos, deputados estaduais
e federais. Houve a manifestação de dois deputados Assembleia Legislativa do
Paraná – Dep. Goura (PDT) e Dep. Evandro Araújo (PSC) – além dos vereadores
Marcos Vieira (Curitiba), Anderson Ferreira da Silva (Colombo) e Renan Ceschin
(Pinhais), como também, do Dep. Fed. Luizão Goulart, ex-prefeito de Pinhais, a
quem o Secretário de Educação, segundo informações obtidas, acenou com a
continuidade do Curso. A comunidade escolar chegou a ser comunicada de que
poderia abrir matrículas para 2022 e uma lista de pré-inscrição começou a ser
preenchida.

Porém, no dia 21 de outubro, a escola foi informada que não seria mais
autorizada a abertura de novas turmas.Essa decisão por parte da Seed vai na contramão do que o governo do Estado promoveu no dia 25 de outubro, conforme noticiado pela Agência Estadual de notícias: “O Paraná é o primeiro estado a unir a iniciativa privada e o poder público para promover, de forma concreta, a sustentabilidade. Nesta segundafeira (25), o Governo do Estado lançou o primeiro comitê público-privado sobre
ESG do País, juntando lideranças em prol de ações sobre questões ambientais,
sociais e de governança”.

Esse comitê reúne empresas como Klabin, JBS, Sanepar, Renault, Itaipu e
Volkswagen. Segundo a mesma reportagem, “A iniciativa promove uma
cooperação entre representantes de empresas públicas, privadas e secretarias
estaduais, apresentando boas práticas existentes pelo mundo e criando novos
projetos relacionados à sustentabilidade”.

Participaram do encontro Artur Grynbaum, vice-presidente do Conselho do
Grupo Boticário e co-líder da iniciativa; Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin;
Eduardo Bekin, diretor-presidente da Invest Paraná; Claudio Stabile, presidente
da Sanepar; Antônio Megale, diretor de Assuntos Governamentais da
Volkswagen, entre outras lideranças empresariais.

Ao não ser autorizada a continuidade dos cursos técnicos em meio ambiente no
Paraná, parece que alguém não está fazendo a lição de casa direito. Isso porque
o “Paraná é signatário de dois acordos da Organização das Nações Unidas que
promovem ações para minimizar as mudanças climáticas: a Race to Zero, que
tem como meta zerar as emissões líquidas de carbono até 2050, e a Race to
Resilience, que almeja tornar 4 bilhões de pessoas de comunidades vulneráveis
resilientes às mudanças climáticas até 2030”, afirma a AEN na mesma
reportagem.

Um estado que se apresenta como líder brasileiro no ranking de sustentabilidade
ambiental, reconhecimento que foi concedido pelo Centro de Liderança Pública,
não pode fechar os cursos de Meio Ambiente das escolas públicas.
A pergunta que fica é: como alcançar e manter esses objetivos, fechando cursos
que formam os profissionais necessários para atingir essas metas?

Há uma grande demanda de Técnicos em Meio Ambiente no mercado de
trabalho. Sete em cada dez formados no ensino técnico estão empregados.
Estudo realizado em 2019 pelo Serviço Nacional da Indústria – SENAI revela
que a taxa de empregabilidade supera 80% entre profissionais que concluíram
cursos em áreas como meio ambiente e tecnologia da informação. O estudo
ainda aponta que o curso técnico em Meio Ambiente é o que possui maior
porcentagem no quesito: 86,8%.

Segundo o ex-aluno Lucas Gabriel, “Este curso teve grande impacto positivo na
minha carreira profissional, desencadeou oportunidades durante e após o curso
no mercado de trabalho”. Atualmente, Lucas é Técnico de Controle de Meio
Ambiente na Empresa Top Service S/A, que presta serviços para a Electrolux do
Brasil S/A.

Numa pesquisa rápida de vagas para Técnico em Meio Ambiente, encontramos
numa única plataforma, 36 vagas para contratação imediata em Curitiba e
Região Metropolitana e 300 para todo o Brasil na Plataforma Trabalha Brasil. Já
na plataforma Catho são 23 para Curitiba e Região Metropolitana e 137 para
todo o Brasil. Dos nossos alunos, 67% vão para o ensino superior

Ademais, quando se forma um técnico em meio ambiente, mesmo que ele não
vá atuar na área, no mínimo, a escola formou um cidadão com consciência
ambiental. E que, onde quer que ele vá atuar – empreendedorismo, professor,
serviço público, advogado, médico, engenheiro, comércio, etc. – levará a
preocupação, a responsabilidade e a consciência ambiental. No momento em
que estamos vivendo a pior crise hídrica do país, não faz sentido o Estado fechar
os cursos de técnico em meio ambiente.