Protesto sem educação

Para o bolsonarismo, a única mensagem que faz sentido é de pedir mais armas em nome da paz





Faixa em defesa da educação é arrancada por bolsonaristas. Imagem: reprodução Redes sociais

“Uma imagem vale mais do que mil palavras “. Foi desta forma pouco criativa que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) definiu as “manifestações espontâneas” que ele próprio convocou ao longo da semana. Dessa vez, o líder da nação não definiu como “idiotas úteis” ou inúteis as pessoas que erguiam cartazes defendendo o fechamento do Congresso Nacional e do STF. Também chamou de democrático os protestos que miraram no presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia – um aliado – a ira com o inconformismo da paralisia das votações.

O ápice dessas imagens que necessitam de muitas palavras para serem explicadas foi a remoção de uma faixa enorme do Prédio da Santos Andrade “Em defesa da Educação”.  Nesse sentido, é muito difícil explicar para quem não acompanha a política como alguém faz um protesto sem educação.

A retirada da faixa simbólica contra os cortes das universidades públicas não pode ser encarada de forma objetiva. Para aqueles que arrancam faixas e rasgam placas, existe um forte componente subjetivo para além da sua intolerância antidemocrática. Pouco importa que a faixa preta não trazia em si os valores milionários represados da UFPR, IFPR, UTFPR e Unila. Ou ainda que em seu rodapé estava escrito #orgulhodeserUFPR e nenhuma mensagem contra os ataques a Paulo Freire, por exemplo. Nada disso explicaria a ação predatória.

Eu sei, você sabe, eles sabiam que mesmo sem ter assinatura da CUT, do PT ou de outro partido, a faixa “Em defesa da Educação” carrega a mensagem implícita de #elenão. E por não serem estúpidos – imagino -, os bolsonaristas se julgam no direito de arrancar qualquer faixa humilhante ao governo e fixar outra defesa de Olavo de Carvalho: guru presidencial. É aquela coisa: às vezes o símbolo de uma vitória não é o placar da goleada, mas uma bola no meio das pernas do capitão do time.

Por outro lado, o protesto sem educação revela o que são os bolsonaristas em sua essência: uma massa acrítica capaz de rejeitar qualquer coisa que seja contra seu ídolo e apoiar cegamente qualquer coisa que ele diga. A isso chamamos de alienação política.

Por isso não surpreenderia se os bolsonaristas arrancassem faixas dizendo “queremos empregos”, “basta de violência”, “quero me aposentar”, “mais amor, menos ódio”. Aos olhos dos protestantes, essas são mensagens extremamente perigosas que expõem a debilidade de Bolsonaro e o que ele representa.

Para o bolsonarismo, a única mensagem que faz sentido é de pedir mais armas em nome da paz, perseguir homossexuais e mulheres em nome de Deus, defender cortes na educação em nome do conhecimento, postar Golden shower em nome da família e colocar a bandeira de Israel e EUA no perfil em nome do patriotismo brasileiro.

O protesto bolsonarista ensina uma importante lição a todos nós: Se só a educação liberta, todas as formas de tentar aprisioná-la devem ser combatidas.