Sete filmes brasileiros que censor algum pode deixar passar

Frente à onda conservadora que varre o país fechando exposições e criando mal estar em centro culturais, o Porém.net traz uma lista com bons filmes.





Tatuagem, de Hilton Lacerda. Foto: Flávio Gusmão/Divulgação

As artes e os “bons costumes” estão em queda-de-braço. Nas últimas semanas, o país viu o moralismo fechar exposição e peça de teatro. Chegaram até a retirar uma tela de uma mostra, via força policial, alegando pedofilia. A obra claramente dizia o inverso disso. No Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, uma performance foi acusada de pedofilia e revoltosos chegaram a agredir funcionários da instituição. Nunca é pouco lembrar que as artes estão aí para nos fazer pensar e nos tirar do nosso lugar de conforto. Não é só em função do belo que ela existe, ao contrário do que alguns andaram tentando defender. Não é só para decorar sala de estar que os quadros são feitos. Não é só para comer pipoca no cinema que os filmes são produzidos.

Em função desses reveses, o Porém.net produziu a seguinte lista. São sete filmes brasileiros que censor algum pode deixar passar. São todos queer, despudorados, polêmicos e, veja só, muito bons.

Corpo Elétrico
O longa-metragem de Marcelo Caetano conta a história de um estilista de vinte e poucos anos que espreme sua vida entre o labor diário na confecção e o desejo pelos colegas e estranhos. O filme mostra uma São Paulo sem cartões postais e um bando de gente anônima que tem suas vontades e quereres. Tem uma crítica aqui sobre o filme.

Madame Satã
Um dos filmes mais importantes das últimas décadas. Dirigido por Karim Aïnouz, o longa de 2002 conta a história de João Francisco dos Santos, a drag queen Madame Satã. O filme se passa na década de 1930, quando ser travesti era apenas a ponta do iceberg dos problemas do protagonista. João Franciso era ainda negro, filho de escravos e bandido. Um filme violento em que o sexo é a cara do personagem. Intenso e escandaloso. O filme foi responsável pelo lançamento nacional do ator Lázaro Ramos.

Praia do Futuro
Também dirigido por Karim Aïnouz, o filme rendeu polêmica à época do lançamento por mostrar um Wagner Moura gay aos amassos com outro homem. Entenda-se: “Tropa de Elite” alçou o personagem Capitão Nascimento, vivido pelo mesmo ator, ao imaginário popular. A sacada do cineasta foi a de subverter a imagem do policial do Bope. Em “Praia do Futuro”, Moura vive um bombeiro que abandona sua terra para poder assumir sua sexualidade.

Tatuagem
O filme de Hilton Lacerda é um manifesto à liberdade e à libertinagem. Passado na época da ditadura militar, o protagonista, vivido por Irandhir Santos, é um ator de teatro apaixonado por um jovem soldado do exército. O ator é a estrela de um ousado grupo que teima em fazer suas apresentações clandestinas mesmo sob o risco da repressão. A trilha do DJ Dolores virou clássico instantâneo com sua irreverência e deboche ao puritanismo.

Batguano
De todas as adaptações do herói Batman, essa talvez seja a mais surpreendente delas. Aqui Batman e Robin são um casal gay em um mundo varrido por uma peste chamada Batguano. Para se proteger de um mundo hostil, o casal se isola e passa os dias rodando filmes pornôs amadores. Dirigido por Tavinho Teixeira.

Doce Amianto
Um conto de fadas LGBT, uma narrativa afetada, colorida, extravagante. Com direção de Uirá dos Reis e Guto Parente, “Doce Amianto” conta a história de uma travesti que sofre de amor. Sua amiga Blanche, que está morta e se torna uma espécie de fada, a protege e a consola. Ousadia é pouco para definir o longa.

Hoje eu quero voltar sozinho
Esse é o filme fofo da lista. Escrito e dirigido por Daniel Ribeiro, a história mostra as descobertas sexuais de um adolescente cego. Ele se apaixona pelo amigo e tudo é conduzido com muita delicadeza. Dá até para chorar.