Lula: “Levantem a cabeça”

Ex-presidente fez discurso motivacional durante ato em sua homenagem. Pediu por uma militância mais combativa e uma esquerda unida.





Foto: Mídia Ninja.

“O ser humano pode ser preso. Mandela (ex-presidente da África do Sul e militante contra o Apartheid) ficou preso por 27 anos. E isso não diminuiu sua luta.” A frase pode ser tomada como síntese do discurso que Lula proferiu na noite desta quarta-feira (24) para milhares de pessoas na praça da República, em São Paulo. O ato teve início logo após o encerramento da sessão do TRF4 que condenou o ex-presidente, em segunda instância, a 12 anos e 1 mês no caso do Triplex.

“Porque eles não podem prender as ideias, a esperança. Lula é apenas uma pessoa. As ideias já estão na cabeça do povo. O Brasil tem milhões de mulheres e homens mais fortes que o Lula, mais inteligentes do que o Lula”, afirmou o petista. Para ele, a chave da resistência está na coesão entre a esquerda, “que terá compreensão e se unificará durante a campanha (à presidência)”.

Tanto Lula quanto outros líderes de movimentos sociais e políticos que subiram ao palanque para discursar durante o ato ressaltaram que a hora é de lutar nas ruas pela democracia. “Eu nunca tive nenhuma ilusão sobre a decisão do tribunal. Nunca tive ilusão com o comportamento dos juízes na questão da Lava Jato, porque houve um pacto entre o poder judiciário e a imprensa. E eles decidiram que era a hora de acabar com o PT e com a governança no país”, analisou o petista.

Leituras semelhantes fizeram a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o senador do PT, Lindbergh Farias. Ambos afirmaram que o momento pede que o povo vá às ruas sabendo que a democracia sofreu um grande golpe. Gleisi disse que a Constituição, que criou um pacto entre os poderes durante reconstrução da democracia brasileira, foi rasgada. Lindbergh afirmou que é hora da desobediência civil.

O Discurso

A motivação da militância foi o ponto principal no discurso de Lula. Ele insuflou os manifestantes diversas vezes. “Não quero ninguém com pena do Lula. Levantem a cabeça.”

Lula destacou que a escolaridade foi um dos pontos altos de seu governo e um dos motivos pelo ódio que as elites têm ao PT. “Eles não suportavam mais a ascensão, a escolaridade, um programa que levava 100 mil jovens para estudar no estrangeiro”, disse. “O melhor investimento que um país pode fazer é o investimento na educação. É o que vai garantir a soberania de um país, a do conhecimento, a da tecnológica, a da competitividade.”

O ódio contra o PT, de acordo com o ex-presidente, também se deu pela ascensão das classes trabalhadoras, pelo crédito para habilitação popular e a quantidade de crédito ofertada pelos bancos públicos brasileiros. “É muita gente com carro na rua. A culpa é dessa desgraça do PT que fica ajudando esse povo a comprar carro. Povo é para andar de ônibus lotado”, ironizou.

Sobre a decisão da 8ª turma do TRF4, Lula disse que espera um pedido de desculpas. Como em outras vezes, o petista ressaltou que não cometeu crime. “Eu tô condenado outra vez por um apartamento que eu não tenho, que não é meu. Se eles apresentarem um crime, eu desisto da minha candidatura.”

O ato desta quarta-feira, para Lula, foi mais importante do que um ato eleitoral. “É um ato em defesa do brasil. É um ato em defesa da soberania nacional.”

As coisas vão piorar, reclamou. “Quando consagrarem a reforma da presidência social, tudo vai piorar. Quero que vocês saibam que o Fies está acabando, o Prouni está diminuindo, a massa salarial está diminuindo. O trabalho com carteira assinada vai deixar de existir. Quero que saibam que vai sair dos nossos direitos coisas que conquistamos há 60 anos. Quem está no banco dos réus é o Lula, mas quem está condenado é o povo brasileiro.”

“Eu não queria mais fazer política”, disse Lula. “Esse julgamento é uma oportunidade de eu viajar o Brasil e discutir com o povo brasileiro. Mas essa provocação é de tal envergadura que me deu uma coceirinha e agora eu quero ser candidato à presidência da república.”