Enciclopédia do Golpe que trata do papel da mídia é lançada em Curitiba

O evento ainda contou com um debate sobre as consequências do golpe para as mulheres trabalhadoras com a participação da ex-ministra Eleonora Menicucci





Lançamento do segundo volume da Enciclopédia do Golpe em Curitiba. Foto: Gibran Mendes

Na noite da terça-feira (06/03) aconteceu, em Curitiba, o lançamento do segundo volume da Enciclopédia do Golpe, que desta vez, trata exclusivamente do papel da mídia na retirada de Dilma Rousseff da Presidência da República. O evento ainda contou com um debate sobre as consequências do golpe para as mulheres trabalhadoras com a participação da ex-ministra Eleonora Menicucci.

Ela destacou dois personagens que exerceram papel fundamental no Golpe de 2016. O primeiro deles a mídia. “São cinco famílias brancas, ricas e que controlam a grande mídia do Brasil. Nós não fizemos o marco regulatório das comunicações e esse foi um dos grandes problemas”, avaliou.

O segundo papel, segundo ela, foi a misoginia. “Uma mulher, ex-guerrilheira, sem homem pendurado nela e que subiu a rampa com a filha no primeiro mandato e no segundo sozinha, ela não pode (ser presidenta). Isso começou na posse, quando falaram do vestido que usava, comparando com a Dona Marcela, a bela recatada e do lar”, exemplificou.

A ex-ministra Eleonora Menicucci. Foto: Gibran Mendes.

O que se seguiu foi uma grande sequência de retirada de direitos. Desde o congelamento de gastos por 20 anos com a PEC 241 até o fim da CLT. Neste caso, a ex-ministra ressaltou um ponto específico que trata de indenizações a partir dos salários de cada trabalhadora. Quando ocorrem casos de assédio moral ou sexual os valores a serem reclamados dependerão do rendimento de cada uma. “Só se fala de gestantes e lactantes. Mas e isso aqui?”. questionou.

A ex-ministra dividiu a mesa com a ex-presidenta do Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, Marisa Stédile e a professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Heliana Hemetério.

Marisa Stédile também avaliou que o papel da misoginia foi preponderante. Contudo, a ascensão social também aparece como fator importante. “A mídia e a elite nunca engoliram o fato de Lula ser eleito e ter feito um governo com tanta satisfação popular e elevado o Brasil em um patamar internacional. Acredito que a mídia aproveitou aquele momento (em junho de 2013) e o sentimento difuso da classe média brasileira que não suportava saber que sua empregada doméstica tinha direitos. Aproveitou o sentimento de uma classe média facista que não suportava encontrar o peão da construção civil no aeroporto e ver o porteiro chegar para trabalhar de carro”, comentou.

Foto: Gibran Mendes

Para ela a situação é clara. “Um sentimento de desprezo e ódio aos pobres. Esse sentimento passou a ser declarado publicamente nas manifestações. Passou a servir na mídia de todas as formas. Esse sentimento de ódio aos pobres se tornou visível. Eles precisavam desconstruir a imagem de Dilma e o fez de forma sórdida e rasteira. Essa desconstrução da imagem da presidenta Dilma era necessária para os interesses dos golpistas”, completou.

A professora Heliana Hemetério destacou, além da misoginia, o racismo na sociedade. “ O racismo talvez seja a pior maneira de preconceito que um ser humano sofre. Cansei de solidariedade de palavras. Não quero mais saber de folders. Quero que comecem a pensar o quanto vocês são racistas, como vocês praticam diariamente na vida de vocês, com relação a cozinheira, a empregada doméstica, a faxineira. O racismo não é pauta ido movimento feminista e nem de mulheres”, provocou.

Heliana seguiu a linha provocativa e questionou quantas pessoas seguem exatamente os direitos de mulheres trabalhadoras negras que exercem atividades domésticas. “Há um discurso de perdas trabalhistas, mas não querem saber quando nós conseguimos a obrigatoriedade de assinar carteira de nossas empregadas”, argumentou.

Foto: Gibran Mendes

Livro – A diretora geral do Instituto Defesa da Classe Trabalhadora (Declatra), Mirian Gonçalves, mediou o debate que precedeu o lançamento do segundo volume da Enciclopédia do Golpe. “Nosso objetivo não é apenas relatar, mas registrar. Daqui 20 ou 30 anos vão querer saber o que aconteceu na história. Estamos fazendo isso, além dos outros livros, com essa motivação”, avaliou.

A ex-ministra Eleonora Menicucci também ressaltou o papel histórico das publicações produzidas pelo Instituto Declatra no registro histórico do momento. Esta coleção conta a história do golpe de vários aspectos, a partir de várias frentes, para que não se esqueça o que acontecei e não se repita jamais”, finalizou comparando com memórias da ditadura de 1964 que até hoje não estão resolvidas.