Organizações feministas manifestam-se sobre estupro de haitiana na RMC

Marcha das Mulheres, UBM e APP Metrosul apontaram caráter machista e xenófobo do crime. OAB colocou comissões à disposição da vítima





A Marcha Mundial das Mulheres, a União Brasileira das Mulheres (UBM), o Núcleo Sindical APP-Metrosul e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Paraná manifestaram nesta sexta-feira (18) sobre o caso da haitiana grávida de um mês que sofreu um estupro coletivo em Mandirituba, região metropolitana de Curitiba.

O crime, que aconteceu no último domingo (13), foi cometido por quatro homens na casa da vítima e na frente do marido da mulher. Em uma única ação eles invadiram a casa, roubaram, violentaram, humilharam o casal, cometeram o estupro e uma tentativa de feminicídio. Os acusados, com idade entre 18 e 25 anos, foram presos pela Polícia Civil de Fazenda Rio Grande, município vizinho de Mandirituba.

Nesta sexta-feira (18), algumas organizações manifestaram seu repúdio ao crime e denunciaram o caráter machista, misógino, racista e xenófobo da barbárie. A condição de desigualdade da vítima, mulher negra e migrante, foi lembrada por nota da Marcha Mundial das Mulheres. “Questões estas que, por si, colocam esta mulher, numa escala de desigualdades, num extremo de desvantagens em relação às outras mulheres, não negras e não migrantes e, portanto, mais suscetível às barbáries deste mundo capitalista e estruturalmente machista”.

A organização ainda destacou o desmonte das políticas públicas de atendimento às mulheres após o golpe de 2016 e o fato do estado do Paraná ser o quarto no ranking nacional de feminicídios e o terceiro nos crimes de estupro.

Mulheres negras

A União Brasileira das Mulheres (UBM) lembrou que a cada 11 minutos uma mulher é estuprada e que a taxa de homicídios de mulheres negras é o dobro da de mulheres brancas. “É sobre as mulheres pobres que sobrevem a perda da vida sem assistência adequada. É sobre as mulheres negras que o peso das desigualdades desaba impiedosamente, dadas suas condições de maior vulnerabilidade, aproximando a morte ou doenças graves”, destaca a nota da entidade.

O Núcleo Sindical da APP-Metrosul também manifestou seu repúdio ao crime e solidariedade à vítima. “Episódios como este mostram o quanto as mulheres ainda estão à mercê do medo, pois nenhum lugar se mostra o suficiente seguro para elas”. A entidade clama para que a “dor de todas as mulheres vítimas seja transformada em luta pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres”.

Acompanhamento

Por meio de nota oficial, a OAB/PR informou ter colocado suas comissões de Direitos Humanos e de Estudos da Violência para agir no caso em apoio às vítimas. A entidade expressou repúdio a ação dos criminosos e fez uma saudação ao trabalho dos policiais que prestaram atendimento à vítima e trabalharam para identificação dos responsáveis.

A delegada Gislaine Ortega, da Polícia Civil de Fazenda Rio Grande, afirmou em coletiva à imprensa que a mulher precisará de acompanhamento médico especial para não prejudicar a gestação. “Todo o atendimento tem sido acompanhado por uma equipe de assistência dos organizadores do projeto que atende o casal por aqui, pois há certa dificuldade pelo idioma, que eles só falam francês”, disse a policial.

O casal de haitianos mora no Brasil desde janeiro e recebe acompanhamento da Pastoral do Migrante e da Caritas de Mandirituba.