O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é destaque na produção de arroz orgânico. Apesar da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão do governo federal, não diferenciar a produção orgânica da convencional (com agrotóxicos e outros aditivos químicos) na sua estimativa atual de safra, o Instituto Riograndense do Arroz (Irga), do governo gaúcho, confirma que o MST é, atualmente, o maior produtor orgânico do grão na América Latina.
No Rio Grande do Sul, 501 famílias do movimento produzem arroz orgânico em 21 assentamentos e em 16 municípios gaúchos. A estimativa para safra 2017-2018 é colher cerca de 24 mil toneladas em 5.513 hectares de área cultivada. Apesar do carro-chefe da produção estar nos pampas, o estado do Paraná também têm grandes experiências na produção do arroz orgânico em áreas da reforma agrária.
Um dos pioneiros no cultivo no Paraná é o agricultor Delfino José Becker, de 54 anos, morador do Assentamento Pontal do Tigre, em Querência do Norte. Ele iniciou o cultivo de arroz orgânico há 17 anos, durante a realização da primeira edição da Jornada de Agroecologia. Desde então, Becker expõe suas variedades nas edições do evento.
Das 17 jornadas, o agricultor esteve em 15 delas. “A partir de 2000 comecei a praticar a agroecologia na produção de arroz. Aprendi a fazer biofertilizantes e adubos alternativos. Nas jornadas fui trocando experiência e conhecendo experiências em outros estados, como em Eldorado do Sul, município perto de Porto Alegre (RS), onde está a maior produção de arroz orgânico da América Latina”, conta.
O pioneiro no cultivo comemora o ingresso de novos agricultores no cultivo do grão. “Estamos no caminho certo. Este ano terão novos produtores de arroz praticando a produção orgânica. A agroecologia deve ser multiplicada para toda sociedade. A feira é uma forma de dialogar com a sociedade e multiplicar nossa produção”, diz Becker, que tem sua produção certificada pelos selos da Ecovida e do Tecpar.
Na luta pela reforma agrária desde 1988, quando participou das ocupações de áreas improdutivas em Querência do Norte, Becker afirma que o consumo de alimentos saudáveis é direito da sociedade. Para ele, é uma busca por um novo modelo de sociedade. “As jornadas são oportunidades de fazermos as trocas de experiências e provarmos que é possível fazer uma sociedade nova, com novos valores, produzindo alimentos, produzindo saúde, produzindo tudo de bom. Essa sociedade é possível e a gente está provando que é possível praticá-la, experimentá-la e degustá-la hoje. Isso nos entusiasma a continuar fazendo”, conclui Becker.