Uma doença para se levar até o leito

Não importa como você encare a música, por entretenimento ou de forma profissional, mas no fundo de tudo está a alma, o espírito e a atitude





Ozzy Osbourne no palco do Monsters of Rock, em 2015, no Brasil. Foto: Camila Cara/Monsters of Rock/Fotos Públicas

Sou da turma de um bando de doentes, insanos, rebeldes, contestadores e transgressores. Nós – realmente somos – o verdadeiro “bando de loucos” e nossa loucura cresce a cada dia, não tem limites, barreiras de idade, raça, gênero ou distinção social. Temos uma doença em comum, doença que me afere desde a infância, desde que me conheço por gente. Essa doença está sempre corroendo meus ossos e correndo nas minhas veias, indo direto ao meu sangue com uma injeção de adrenalina, como um verdadeiro “elixir da vida”.

Escrever sobre algo que você gosta é prazeroso, mas você corre o risco de fazer uma análise pessoal demais, conforme suas experiências próprias. Mas desde o meu primeiro contato com essa doença, a reação foi de “amor ao primeiro riff”. Nesse primeiro contato, senti que levaria essa doença comigo e com muito prazer – até o meu leito de morte.

Na adolescência não conseguia dormir sem doses homeopáticas do “bom e velho rock n’ roll”. Desde que me conheço essa sempre foi minha válvula de escape. Bastava eu brigar com o meu irmão, discutir com meus velhos, sair no braço na escola ou ser pego fazendo algo “ilícito”, e lá ia eu para minha “droga” predileta. Fechava meu quarto (pois era um “barulho” que só eu tinha o dom de ouvir) e somente sossegava colocando os decibéis nas alturas.

Para muitos, assim como para mim, o rock serviu como um verdadeiro divisor de águas. Nele você viaja, nele você consegue descarregar suas angustias, ser realmente quem se é. Ele nos traz experiências que vão além do senso comum.

Nós amantes do rock, diferente de outros grupos, sentimos prazer em ter guardado uma infinidade de fitas cassetes em velhas caixas de sapato (que para alguns não passariam de lixo e velharias); algumas originais e outras gravadas com uma qualidade “duvidosa”, sem falar dos velhos “bolachões”.

Não importa como você encare a música, alguns somente como mero entretenimento e outros de forma profissional, mas no fundo de tudo está a alma, o espírito e principalmente a atitude. Coisa que somente o rock sabe explicar como ninguém, sendo ferramenta de liberação de espírito para aliviar a dor, contestar, se divertir, e fazer amor.

O saudoso Leminski, o “maldito” paranaense, dizia que “a vida é uma viagem, onde estamos somente de passagem”, porém o rock é uma viagem que levarei até o fim dos meus dias, mas que felizmente nunca vai morrer, diferentes de tantas “drogas” passageiras por aí.

Nem Freud conseguiria explicar se o Rock é do Diabo ou de Deus. Eu prefiro dizer que ele é simplesmente do homem, mas acredito que deva ser a trilha mais tocada nos salões e nos alto falantes do inferno.

Nesse Dia Mundial do Rock, vale ligar o som no volume alto e saldar monstros como Berry, Iggy, Zappa, Lou, Dylan, Dio, Hendrix, Cash, Jello, Jethro, Janis, Sabbath, Motorhead, Stones, Stoogies, Ramones, Led, Mutantes, Ratos, Nirvana, Metallica, Pistols, AC/DC, Slayer, Raulzito, Clash, Inocentes, os irmãos Cavalera (os “Jungle Boys”), enfim, há tantos monstros por aí, que precisarei ser injusto e deixarei vários de fora.

Parabéns a eles e principalmente a nós, bando de transgressores que continuamos com nossa vontade de gritar por liberdade e continuar a ouvir a mais “brutal, feia, desesperada e viciada forma de expressão que já tivemos o prazer de escutar”.