Os “fura-tarifas”

Preço alto e lucro das empresas estimulam a evasão do transporte público





Foto: Pedro Ribas/SMCS

André Machado*

Nos últimos dois anos, o prefeito Rafael Greca e a maioria dos vereadores de Curitiba iniciaram uma cruzada para combater os “fura-catracas”. Aprovaram uma lei mais rígida para punir os não pagantes do transporte coletivo, apelaram aos usuários para “agirem” contra aqueles que supostamente seriam responsáveis pelo encarecimento da tarifa e ampliaram a presença de guardas e policiais nos tubos e terminais, realizando operações espetaculares para impressionar o público. O resultado foi que, em 2018, o número de “fura-catracas” cresceu para 4 mil pessoas por dia.

Segundo as empresas, inclusive, houve uma mudança no “perfil” dos que pularam as catracas nesse último período: não são somente jovens estudantes, mas, o que vem aumentando, são aqueles que o sindicato patronal chamou de passageiros “comuns”. Ou seja, são pessoas adultas, que sempre pagaram suas passagens, mas que, nesse contexto de crise, endividamento e desemprego, não tem mais grana para pagar R$ 4,25 para acessar o transporte. Muitas destas pessoas precisam escolher entre alimentar suas famílias ou pagar o ônibus, mas não podem deixar de se deslocar para fazer um bico, estudar, procurar emprego. Por isso, pulam as catracas.

Adianta, então, lei mais rígidas e multas pesadas contra quem não consegue sequer pagar o preço da passagem? Adianta colocar grades cada vez mais fechadas? Adianta constranger essas pessoas com ações policiais espetaculares? Adianta tentar colocar a opinião pública contra essas pessoas? Não.

Alguns que leem essa reflexão podem até achar justo “moralizar” o sistema, excluindo os não pagantes, mas nenhuma estratégia será eficiente para reduzir os “fura-catracas” desconsiderando a realidade do povo.

O que fazer? Ampliar as isenções sociais, permitir que desempregados possam acessar o transporte gratuitamente durante o seguro desemprego e, o mais importante, reduzir o preço da tarifa. Muitas vezes, menos é mais, acredite. Trazer os 8 mil passageiros por dia que deixaram de usar o sistema somente em 2018, ou outras dezenas de milhares que evadiram nos anos anteriores, seria uma medida muito mais eficaz. O preço mais baixo pode atrair novamente muitas pessoas e, de quebra, reduzir os “fura-catracas”. Melhorar a qualidade, o conforto, expandir as linhas, aumentar os carros em circulação. Tudo isso pode reconquistar a clientela.

Mas é possível reduzir a tarifa? Claro que sim. Todo estudo sério realizado demonstrou que o sistema alimenta um lucro abusivo dos empresários. Basta que o poder público e o judiciário parem de blindar as empresas.

Todavia, como todos nós já sabemos como as coisas funcionam em Curitiba, quando começam a fazer esse espetáculo para falar dos “prejuízos” com os “fura-catracas” (falarei sobre esse mito em um próximo texto), divulgam a “penúria” dos empresários e os resultados negativos do sistema, é porque já estão planejando mais um aumento. Daí, mais uma vez, os empresários ganharão o que desejam e milhares de pessoas a mais deixarão o sistema.

Se as empresas sediadas em Curitiba não contribuíssem para o pagamento dos vale transportes dos seus funcionários, o sistema já teria entrado em colapso. Aliás, será este o destino inevitável do transporte de Curitiba se continuar sendo operado por esse grupo empresarial e com um modelo que privilegia a ineficiência e os interesses privados.

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André Machado é presidente do PT de Curitiba e suplente de vereador e deputado federal