Por Pedro Carrano*
Jorge arrasta sua barba nos dias que passam na vigília. Profeta discreto, não é de gritos nem de palavras elaboradas. Quer o simples, a liberdade de Lula. Ele recebe a mídia sem ser de mídia, nessa batina esquisita dos que creem. Na semana passada, pediu uma foto, ombro a ombro, contando com a humildade de uma liderança social presente na vigília.
Depois da foto, veio o pedido:
– Pode mandar pra minha filha a foto?
E Jorge me passa o número do telefone e do zap. A jovem destoa muito do pai na seriedade da foto. O pai que mais parece um hippie deixado pela estrada da história.
Enviei a imagem para a filha de Jorge, caprichando no enredo: “Seu pai ao lado do prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, em missão no Brasil”.
Ela nada respondeu. Mesmo assim, depois, Jorge bateu no meu ombro, aquele sorriso torto e profundo:
– Não vejo minha filha há tempos. E era exatamente assim que eu queria que ela me visse.
*Pedro Carrano é poeta e jornalista
