Onde estão os negros no Brasil?

Mês da Consciência Negra





Foto: Leandro Taques

Por Ana Carolina Dartora*

Toda a sociedade é responsável por recontar a história brasileira e buscar o equilíbrio que chamam de democracia, porém sem entender a identidade deste país torna-se inviável.

A busca pela compreensão do DNA desta nação ainda parece interesse apenas do movimento negro, em geral, ainda existe uma incapacidade de se falar em história afro-brasileira, ainda não somos educados para as relações étnico-raciais, ainda não desconstruímos estereótipos racistas, a ilusão da meritocracia ainda circula nas mentes e corações, dificultando a inserção de políticas de reparação e de equidade.

No entanto o Brasil é o segundo país com maior população negra fora da África, a maioria dos traços culturais que nos identificam como brasileiros, o que chamam de cultura brasileira, é em grande maioria herança Africana ou Indígena, quase tudo aqui é não branco, exceto poder e privilégio.

Parte ruim da história é que o racismo molda as relações, e não se pode mais dizer que o racismo é velado, pois quando 54% é sub-representada isto torna-se explícito, não vê quem não vê.

E onde estão os negros? Na base da nação, em todos os serviços desvalorizados, mesmo quando têm boa formação não são a primeira opção das empresas e instituições em geral, o racismo no Brasil além de cruel é burro! 

Existem pesquisas que apontam que quando há maior equilíbrio de gênero e etnia nas instituições a produtividade aumenta em no mínimo 35%, mas apenas homens brancos na visão racista e machista são dignos de credibilidade, suas idéias são legitimadas de antemão, porém eles não representam os 54% de negros, nem os 52% de mulheres, portanto não possuem a linguagem capaz de alcançar mulheres, negros, as instituições preferem ser racistas do que capitalistas.

A Revolução Digital 2.0, ou revolução das redes sociais é negra, a terceira maior população participante hoje de redes sociais no mundo, a falta dessa compreensão torna-se visível no colapso instalado no manejo dessa nova realidade.

É preciso urgentemente fomentar pesquisas e por em dados econômicos e sociais a presença negra neste país,  para que isso nos traga perspectiva de superação da pobreza, da violência, das desigualdades e do racismo.

De acordo com o Instituto Locomotiva, A COMUNIDADE NEGRA MOVIMENTOU APROXIMADAMENTE R$ 1,62 TRILHÕES DE REAIS EM 2017. “O Brasil negro seria o 11º pais do mundo em população e o 17º em consumo”, explica Renato Mereilles em estudos sobre consumo de Classe C, “se os negros formassem um país estariam no G20 do consumo mundial”,  diz o pesquisador.

Outros dados da pesquisa mostram que os negros representam um grupo de 20 milhões de pessoas com intenção de comprar móveis para casa, 12 milhões com intenção de comprar uma TV e 10 milhões planejando comprar um Smartphone nos próximos 12 meses.

Perde-se politicamente, economicamente, e até a democracia se distancia por falta de estratégias que dialoguem com a comunidade negra. E isso vai além do rosto negro na propaganda.

Por mais consciência negra para além de apenas um mês!

Ana Carolina Dartora é feminista negra, bacharel em História, mestre em Educação pela UFPR e militante da Marcha Mundial das Mulheres.