Pikachu preserva características utópicas

Animação dirigida por Rob Letterman estreou no começo de maio




FonteLuciana Santos/Pós-Crédito

Crédito: Divulgação

Desde meados dos anos 2000, o realismo se tornou um forte fator para definir a rentabilidade e, equivocadamente, a qualidade de um filme. Esta talvez seja uma das principais pedras no caminho de adaptações cinematográficas de histórias que não são fundamentadas na nossa percepção cotidiana de real. Como tornar o irreal palpável, sem extrair dele aquilo que o torna fascinante em primeiro lugar? Sem transformá-lo em algo repulsivo? Muitos tentam, e muitos falham. Mas, em tempos versões “live-action” de desenhos animados, Pokémon: Detetive Pikachu parece ter descoberto a fórmula para o sucesso. Como transpor criaturas fantásticas para a nossa realidade? Ignorando-a.

Dirigido por Rob Letterman, com roteiro de Dan Hernandez, Benji Samit, Rob Letterman e Derek Connolly, baseado na concepção de Hernandez, Samit e Nicole Perlman, que por sua vez é inspirada nos personagens do império multimidiático PokémonDetetive Pikachu se passa em Ryme City, uma metrópole onde seres humanos e Pokémon convivem em harmonia. Neste cenário conhecemos o jovem Tim (Justice Smith), um solitário vendedor de seguros com uma relação complicada com seu pai, um detetive particular recentemente desaparecido. Decidido a descobrir o que aconteceu, Tim une forças com um parceiro inusitado: Pikachu (Ryan Reynolds), um adorável e desmemoriado superdetetive viciado em cafeína. Após descobrirem que são capazes de se comunicar um com o outro, Tim e Pikachu reúnem pistas pelas ruas de Ryme City, e revelam uma trama que poderá arruinar essa coexistência pacífica e ameaçar todo o universo Pokémon.

Com cinco créditos diferentes divididos apenas entre roteiro e história, os verdadeiros responsáveis pelo êxito de Detetive Pikachu estão nos departamentos de arte, animação e efeitos especiais e visuais, cuja lista de nomes contém mais de 200 pessoas. Não deixe a presença de Reynolds no elenco te enganar, este é um filme para crianças e, como tal, contém lições de vida dentro de um arco narrativo simples e segue a tradicional estrutura de três atos. O encanto de Detetive Pikachu se encontra em sua construção de universoe no design de suas criaturas, que recusam a pauta realista e se aproximam mais de suas aparências animadas. Elas conservam olhos grandes, rostos expressivos e cores vivas, e emprestam do real apenas aquilo que contribui para torná-las tangíveis, como a textura de seus corpos. O resultado são pokémon que provocam no espectador uma curiosa reação física, a mesma desencadeada por filhotinhos de animais domésticos. A vontade de afagar, pegar nos braços e abraçar. Morte por fofura.

Além de Ryan Reynolds, obviamente se divertindo como a voz de Pikachu, e Justice Smith, que faz um eficiente trabalho com seu Tim, o longa conta com Ken Watanabe, Bill Nighy, e algumas aparições ilustres. Com 1h44min de projeção, Pokémon: Detetive Pikachu é um lembrete de que espetáculos produzidos na fábrica de sonhos ainda podem conservar características utópicas. E em 2019, nós precisamos delas.