Como cobrir conflitos sem gerar novas crises

Seminário da organização Médicos Sem Fronteiras em Curitiba conversa com jornalistas sobre coberturas de alto risco




FonteSilvia Valim

Gabriela Roméro destaca que uma das necessidades da imprensa é a de divulgar as consequências da guerra, que vão além dos feridos. Foto: Silvia Valim

Jornalistas e estudantes de Comunicação participaram, no auditório do Sesc da Esquina, em Curitiba, do Seminário “Comunicando Crises Humanitárias – como cobrir conflitos armados, desastres naturais e epidemias” promovido pela equipe de comunicação da Organização Médicos Sem Fronteiras (MSF). O evento trouxe informações sobre como funciona e atua a comunicação do MSF nas principais crises humanitárias destacando os recursos e formas de atuação em campo.

Dentro da neutralidade e imparcialidade proposta pela organização nas missões, a coordenadora de conteúdo do MSF no Brasil, Gabriela Roméro, destacou que uma das necessidades é a de divulgar as consequências da guerra, que vão além dos feridos. Segundo Roméro, não é necessariamente a pessoa que é atingida em uma catástrofe, por exemplo, que vai ser o principal motivo de atuação do MSF. A desnutrição – explica – é um dos problemas que pode ser causado por falta de acessos ou porque o sistema de saúde local entrou completamente em colapso.

“Tem um relato de um médico que encontra uma paciente com a diabetes descompensada e que a questiona sobre o uso da insulina. Ela explica que há muito tempo não tem acesso, mas mesmo se tivesse não conseguiria manter por falta de eletricidade e refrigeração. Então, a eletricidade é um problema pro MSF também. Como manter uma cadeia de frios e levar para um país extremamente quente? Então são essas as consequências indiretas da guerra que a gente vê com frequência no nosso trabalho”, conta Gabriela.

Cobrindo conflitos

Durante o encontro também foram apresentadas reportagens de profissionais da imprensa que já estiveram em atuações do MSF. A jornalista Sonia Bridi, da Rede Globo, enviou um depoimento em vídeo para os participantes contando sobre os bastidores da cobertura dos refugiados do Sudão do Sul, em Uganda. Além de dar dicas sobre providências mínimas a serem tomadas antes de uma cobertura desse porte, a jornalista também relatou o que não levar.

“Não devemos gerar discórdia, mesmo que com boas intenções: Não adianta levar um pacote de balas para ser distribuído entre 30 mil crianças. Isso só irá gerar ainda mais conflito. […] Em alguns momentos me emocionei e fiquei envergonhada. Fui no carro chorar. Eles estão vivendo um drama tão grande e eu não preciso ir lá dar um show de piedade”, relatou Bridi.

Foto: Silvia Valim

O evento também contou com a participação da jornalista convidada Helen Anacleto, que mediou um bate-papo com profissionais do MSF: a farmacêutica Francelise Cavassin, que retornou em dezembro do Iêmen, e a enfermeira-obstetriz Janaína Carmello, que retornou do Sudão do Sul no último mês.

Ambas profissionais atuam nos intervalos de trabalho. “Eu me disponho sempre nas minhas férias, pois sou professora. Então todo fim e começo de ano eu já sei que estarei em algum lugar para o MSF”, conta a farmacêutica.

É a primeira vez que o seminário vem à Curitiba. “Para nossa surpresa, o conhecimento da organização não é tão amplo no Sul do país. Então essa é uma forma de nos aproximarmos e disseminarmos de uma forma mais fluida as nossas informações”, finalizou.