Esquerda deu as costas para a previdência

Projeto avançou na CCJ sem grandes manifestações





Seminário pela Soberania Nacional e Popular, com a presença de Dilma Roussef, Fernando Haddad e Guilherme Boullos. Foto Lula Marques

O Congresso Nacional estava lotado de gente ligada à esquerda na quarta-feira (4). Eram sindicalistas, movimentos sociais, políticos reunidos para fazer pressão no governo federal. Por lá estiveram lideranças como o presidente da CUT. Até a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-candidatos Fernando Haddad e Guilherme Boulos discursaram efusivamente prometendo mais uma temporada de muita luta. Porém, na agenda não estava em discussão a Reforma da Previdência que era analisada pelos senadores na CCJ. A esquerda abandonou a luta pela aposentadoria dos brasileiros antes do jogo ser encerrado. Saiu de fininho.

A luta pela previdência dos brasileiros parece ter saído completamente da pauta. Agora, professores podem trabalhar mais. A viúva receber menos. Tanto faz se é o fim da aposentadoria especial ou do tempo mínimo de contribuição. Parece que a militância se contenta com o simplório “Eu avisei”. Nessa quarta-feira, enquanto a esquerda se mobilizava pela criação da Frente pela Soberania Nacional e Contra as Privatizações, um jogo importante, é claro, poucos senadores se revezaram para barrar ou atrasar a votação do parecer do senador Tasso Jereissati (PSDB). É como se a esquerda abandonasse o jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil para se dedicar ao primeiro turno do Brasileirão. 

Comportamento muito diferente do debate ocorrido na Câmara dos Deputados, quando greves gerais, paralisações, hastags e memes disputavam com a direita o poder de influenciar o pensamento da população. Naquela tão distante época de pouco mais de um mês atrás, as pesquisas demonstraram que o povo era contra a reforma. Mas isso não interessa mais. Ou é o que parece. Ao longo do dia 4 de setembro, as pessoas não receberam no Whatsapp nenhum meme falando das ameaças ao futuro, não se viu partidos postando vídeos e entradas ao vivo em protesto. Nada. Ou quase nada disso.

A presidente da CCJ, senadora Simone Tebet e o relator da PEC 6/2019, senador Tasso Jereissati, durante a reunião deliberativa para análise da PEC 6/2019, que modifica o sistema de Previdência Social.foto Fabio Rodrigues Pozzebom/Ag. Brasil

É verdade que alguns senadores resistiram. Não soltaram a mão do povo e de ninguém. Como Paulo Paim (PT/RS) que até apresentou proposta paralela ao projeto para que a reforma não avançasse. Mas foi derrotado com a tranquilidade de quem toma um cafezinho no meio da tarde sem se importar com a tempestade lá fora.

Eu ouvi de um advogado que a esquerda tem perdido as batalhas por WO. Concordo discordando. Vai além. A esquerda tem renunciado a fazer política, em alguns casos. Ela prefere ficar comentando, e gritando, e esperneando a cada cagada de Bolsonaro enquanto que no parlamento a agenda liberal que não pertence e nem depende do presidente (do executivo) avança em céu de brigadeiro. A esquerda, ou parte dela, parece esperar que o seus Messias seja libertado pela Vaza Jato para retornar a arena política. Já a outra parte nem essa desculpa tem para se prender.