É, o golpe foi golpe mesmo

No Roda Viva, Temer admite que Dilma Rousseff foi derrubada





Michel Temer. Foto: Reprodução

A entrevista do ex-presidente Michel Temer (MDB) no programa Roda Viva escancarou o que todo mundo sabia, mas que uma parte da população e dos formadores de opinião não tem coragem de assumir: o golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT) foi golpe mesmo. Nada dessa coisa de pedaladas fiscais ou qualquer desculpa arranjada para dar ar constitucional ao impedimento dela.

Aspas a Temer:

“Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe. O jornal Folha (de São Paulo) detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu em que pleiteava para trazer impedir o impedimento. Eu tentei. Mas eu confesso que a movimentação popular era tão grande que os partidos já estavam vocacionados para a ideia do impedimento. Eu não era adepto do golpe”.

Surpreende que a “confissão de culpa” foi encarada com naturalidade pelos jornalistas da bancada, aliados, possivelmente, do golpe. A declaração de Temer saiu como se ele falasse que tomou um pingado com pão na chapa. O ex-golpista declarou com a segurança de que não será punido por seus atos. Aliás, Temer usa Lula como seu álibi ao mencionar conversas que teve com o líder petista antes da votação, como revela reportagem da Vaza Jato. Para ele, o golpe foi parlamentar, popular e midiático. A presidência caiu no seu colo porque ele era a pessoa certa no lugar certo. Aham, acredite quem quiser.

A “coragem” de Temer três anos após a derrubada de Dilma não é a mesma que se observa na imprensa, aliada do golpe. Vai demorar muito para que os donos da comunicação admitam que inflamaram na população um sentimento que somente o impedimento de Dilma – golpe mesmo – poderia retomar o crescimento econômico. Em 2016, o argumento contra as pedaladas é que a ex-petista promoveu estelionato eleitoral ao usar bancos públicos para ajustar as contas. Atualmente, o que se vê que a imprensa brasileira cometeu estelionato editorial ao dizer, por exemplo, que se ela saísse o PIB dobraria. Contudo, o golpe só agravou a crise financeira e a última projeção do Banco Central é de 0,87% em uma meta de 2,5% para 2019. Um PIB brocha.

Mas não foi apenas Temer que assumiu o golpe na democracia. A deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), autora do parecer do impeachment comprado pelos tucanos,  admitiu também que o golpe foi golpe mesmo. No Twitter, ela escreveu que a questão fiscal não era suficiente para retirar legitimante Dilma do cargo e que a pressão de forças oposicionistas legitimaram o ilegítimo  movimento. “Alguém acha que Dilma caiu por um problema contábil?”

Voltando a Temer e a sua confissão, ela surpreende zero pessoas. Muito antes dos vazamentos do The Intercept vir a público, o diálogo de Sérgio Machado com o senador Romero Jucá  revelava que a saída de Dilma era necessária para estancar a sangria. Lembram do “a solução mais fácil é botar o Michel em um acordo nacional, com o Supremo, com tudo? Só faltou dizer que nesse grande acordo tinha a Lava Jato também, mas com seus interesses próprios.

É o caso dos golpistas Deltan Dallagnol e Sérgio Moro que tramaram vazar áudio sobre a nomeação de Lula, omitindo diversos diálogos dele com Temer e outros interlocutores. Esses dois estão na raiz de todos os problemas nacionais quando usaram as leis e a arapongagem oficial para interferir conscientemente na política e nas eleições brasileiras.